O ator Maurício Branco é daquelas pessoas que todo mundo quer por perto – ou não. Sempre fala a verdade, tira sarro de todos, perde o amigo, mas não perde a piada. Nas próximas quartas-feiras (23 e 30/05), ele vai estar no palco do clube Manouche, na Casa Camolese, no Jardim Botânico, com o show “As Bibas são de Júpiter”, em nome inspirado no livro “Os Homens são de Marte, as Mulheres são de Vênus”, de John Gray. Afiado ao extremo, Maurício sempre divertiu os amigos com suas versões, ora proibidonas, ora espirituosas, de sucessos da MPB e do pop/rock, como “Vida Bandida”, de Lobão, que virou “Bicha Bandida”; “Shimbalaiê”, de Maria Gadú, passou a se chamar “Chupalaiê”; “Smooth Operator”, de Sade, agora é “Sou Maconheira”.
O ator será acompanhado no palco pelo DJ Ramone e por João Pedro Bonfá, filho do baterista da Legião Urbana, no violão e na guitarra. O ator ressuscita, também, a personagem Heleninha Roitman, a vilã eternizada por Renata Sorrah em “Vale Tudo” (1988), que ele costumava imitar na infância e que virou personagem recorrente em suas peças. “Heleninha sempre foi meu melhor personagem. Em ‘Uma Noite em Branco’ ela aparecia, mas sem peruca. Agora vem bêbada e loira!”, afirma.
Qual foi a inspiração de “As Bibas são de Júpiter”?
O show de música nasceu há muitos anos, mas antes fiz uma tentativa de lançar algo nessa linha de comédia musical, mas não deu certo. Escrevi uma peça e acabei querendo fazer esse show antes. Era mais rápido e barato. Tudo neste país é difícil de se fazer. Os preços são altos para você alugar um teatro. O nome saiu de uma conversa minha com o diretor Vinicius Marquez – até agora, o melhor com quem eu já trabalhei no teatro.
Mas as bibas não são de São Francisco (EUA), do Brasil?
Na minha opinião, quando assisto às bibas brasileiras no YouTube, a impressão é que algumas são alienígenas – uma coisa meio M.I.B. (“Homens de Preto”). A qualquer momento, um ser extraterrestre pode sair de dentro de algumas bibas. kkk
Como aconteceu as versões para as músicas, foi natural?
Faço versões de músicas desde meus 15 anos. Me lembro de quando comecei: usava canções da MPB para satirizar dramas familiares. Minha família é, às vezes, engraçada, mas o drama também tem sua força. Isso por causa de minha descendência italiana. As músicas mais pedidas são ‘Bicha Seca’, inspirado em ‘Segue o seco’, da Marisa Monte; ‘Não existe ativa em SP’, da ‘Não existe amor em SP’, do Criolo; e ‘E Chupa ela aê’, da ‘Shimbalaiê’ de Maria Gadú.
O show não é nada politicamente correto… O que acha do País hoje em dia, em que tudo pode ser motivo para um processo, um post atravessado nas redes sociais? As pessoas estão chatas?
Se o povo tá chato, o problema é dele. Procuro me divertir em qualquer lugar; Deus me deu essa função na terra. Botou a mão no meu queixo e, antes de apagar minha memória para eu descer pra cá, deve ter me advertido dos perigos. Mas acho que, depois de tanta loucura, cheguei até bem: tenho 48 anos, mas me sinto com 30. E procuro não me meter em nada que possa envolver processos; tenho horror a gente que vive disso. Se eu tivesse um pai advogado, aí seriam outros quinhentos, porque muita coisa está errada. Se alguém me xingar ou se algo me afetar muito, processo sem culpa. Outro dia, um panaca mandou no meu Instagram: ‘Você vai morrer!!!’. Eu respondi : ‘Vou, e você também; ou você é imortal?’ Kkk
Você fez laboratório para a personagem Glória?
Não, por um simples motivo: se um transexual queria ser uma mulher, porque eu teria que conhecer só transexuais? Me inspirei em Cate Blanchet. E deu certo. Horas de maquiagem, unhas, e o saco apertado dentro da caixinha de elástico, sofrendo de dor… Só consegui segurar porque exercitei minha paciência. É muito difícil ser mulher. Na próxima encarnação, quero voltar do mesmo jeito. Por favor!
Você sempre foi um cara que fala tudo o que pensa, não tem medo de se expor, é intrépido e atrevido. Isso atrapalhou sua carreira?
Sempre tive uma relação muito boa com a imprensa. Fui bem recebido quando me tornei uma pessoa pública, tratado com carinho até mesmo quando me afastei um tempo da TV. A imprensa escrita me manteve na posição que conquistei, principalmente por ser eu mesmo, e não ficar fingindo ser uma coisa que não sou. Gosto de luxo, gosto de ler, sou educado e amo tanto Copacabana como Paris. Nunca deixei que me colocassem rótulos. Tenho um espaço conquistado por méritos profissionais, e não pelo glamour; ou melhor, tanto por méritos profissionais quanto pelo glamour. Quero causar durante minha passagem. Como dizia Rita Lee, ‘não quero luxo, nem lixo, meu sonho é ser imortal meu amor!!!’.
Você nasceu em Brasília, mas escolheu o Rio. Como vê a cidade com tanto descaso?
Eu amo o Rio e não me conformo com esse prefeito (Marcelo Crivella); mas não o odeio, não. Sou contra o ódio. Acho que o povo escolheu, agora aguenta. Eu moro no Leblon e não posso reclamar da vida, mas eu queria o Eduardo Paes de volta à Prefeitura. Adoro ele. Ele criou uma marca para a cidade. O Centro da cidade está lindo. Outro dia, me emocionei com aquele bonde moderno no Centro.
Acredita que a violência tem atrapalhado a vida noturna e artística da cidade?
A violência cresce, e daqui a pouco está todo mundo andando armado. Isso não é um desejo, é uma profecia. Atrapalhou muito a vida noturna e artística da cidade que ainda tem um estado falido nas costas. Ou seja, a coisa está feia, mas parado é que não dá pra ficar.
Foto de Guilherme Scarpa.