De Bronze, Felipe só tem o sobrenome. Ele é “Oro”, dono de duas estrelas do Guia Michelin – o único carioca nessa condição. Além do seu restaurante Oro, no Leblon, no Brasil somente o Tuju (SP), do chef Ivan Ralston, e o D.O.M., de Alex Atala, acumulam o mesmo número. A premiação, que aconteceu esta semana, é apenas uma parte das muitas funções do cozinheiro. Pode-se dizer que ele caiu no gosto do povo. E consegue uma coisa que todo mundo quer: tempo. Só pode. De que outra maneira teria quatro programas na TV ao mesmo tempo (“Jogada de chef”, “Que Seja Doce”, “Perto do Fogo” e “The Taste Brasil”)? E vai levar o restaurante Pipo para São Paulo (no Museu da Imagem e do Som), no segundo semestre, e abrir outro em Lisboa, Portugal. Sem falar dos dois livros publicados. Tem ainda o jiu-jítsu e o boxe. Que tal?
O que te desanima na cidade carioca nos últimos tempos?
Evidentemente, a violência hoje é um problema sério, que precisa ser enfrentado. Segurança para uma cidade com a vocação turística como o Rio é fundamental. Fala-se muito do Crivella. O problema maior do Rio hoje é Governo do Estado; a situação da violência foi resultado de negligência federal. Como carioca, acho que o Crivella pode e deve ser mais ousado e presente, mas não personifico os problemas nele, muito menos a solução será “fulanizar”.
Fechar o Pipo do Rio e abrir em São Paulo é, de alguma maneira, dolorido?
Zero dolorido. Fechar faz parte. Eu fico triste pelo Rio estar tão hostil ao empreendedorismo, pelas vagas. Mas escolhi o Rio para lançar um projeto que pode ser disruptivo, o Pipo Digital. Fisicamente, vamos para São Paulo – a mesma energia de fazer, lá e cá. Sem dor.
O que significa pra você ganhar duas estrelas do Michelin?
É uma alegria imensa e uma responsabilidade maior ainda. Mas nosso trabalho é no dia a dia. Seguimos trabalhando com o mesmo objetivo de fazer as pessoas felizes. A gastronomia é uma ilha de excelência em meio a tudo que estamos vivendo.
O estudo da Cabala te ajudou principalmente em quê?
A Cabala me ajudou a acertar as contas com meu maior inimigo: meu ego. Foi um processo longo e doloroso, mas consegui domesticá-lo. Mas o ego está sempre pronto pra voltar; então acordo todo dia pensando: “Fica aí na sua, Felipe Bronze! Você é só mais um cara que deu sorte!”
Alguns chefs falam, em conversas de bastidor, que você vive numa superexposição. O que acha disso?
Eu prefiro acreditar no que eles falam na minha frente: que é incrível como consigo conciliar TV e restaurantes com tanta excelência e vigor. Entre os elogios pela frente e as críticas nas sombras, prefiro acreditar no que escuto, e não do “disse-me-disse”.
Cozinhar é um tesão?
Cozinhar é o maior tesão, mas também é precisão, consistência, disciplina… esse equilíbrio é fundamental. Talvez tipo “sexo com amor”.
Desejo máximo na profissão
É seguir me divertindo com o que faço. Na real, é não ter “um” desejo máximo, é seguir evoluindo, conquistando, melhorando. E me divertindo.
O que diria a outro chef que pedisse dicas pra ir nessa direção?
A gastronomia é o futuro. Como é o presente. E como foi o passado. Gastronomia é cultura, a maneira mais objetiva de se conhecer um povo.