“O que percebi do casamento real foi a emoção: das músicas escolhidas, o coral gospel, o discurso dramático do pastor americano e a troca de olhares entre os noivos – nunca antes na história da Inglaterra, a monarquia divertiu-se de verdade em uma cerimônia de casamento. Era visível no olhar de todos os convidados e, principalmente, nos sorrisos espontâneos do irmão do noivo, William, e do pai, Charles, o quanto se divertiam e se emocionavam a cada etapa. Harry derretia-se literalmente de amor: seu olhar para Meghan e o beijo fora do protocolo assim que saíram da igreja disseram tudo. Ela, por sua vez, mostrava-se devidamente encantada, porém no controle: ciente dos olhos do mundo e da mídia sobre sua pessoa, exibiu uma compostura de dar inveja à própria Rainha Elizabeth II, que tem mais de 60 anos de tarimba.
O vestido da Maison Givenchy (mas de uma estilista inglesa diretora da marca na Inglaterra) prova que ela saberá ceder sempre que necessário: prestigiou os ingleses em detrimento, entre outros, da amiga canadense Jessica Mulroney, com quem provavelmente tinha mais afinidade, e deu aos filhos dela o privilégio de acompanhá-la no carro e levarem seu véu. Diplomacia é isso. E, de quebra, entrou com um lindo vestido elegante, simples e com metros e metros de véu em delicada renda, pra princesa nenhuma botar defeito. Finalmente, se alguém ainda duvida da aprovação da avó de Harry a Meghan, basta ver a tiara de diamantes escolhida por Elizabeth II para a noiva: nada menos do que a de sua própria mãe; a peça é uma das mais lindas e importantes da fabulosa coleção da Torre de Londres.
Eu acho que “felizes para sempre” talvez seja um exagero romântico, mas que o casamento começou muito bem, cheio de emoção e beleza, não resta dúvida! Meghan Markle não é, nem de longe, a primeira plebeia a se casar com um príncipe: a argentina Máxima Zorreguieta casou-se com o príncipe Willem-Alexander e virou uma rainha; Rania da Jordânia, idem; Letízia da Espanha, também…. No entanto, Meghan traz uma carga extra de encanto, aliás, carga dupla de diversidade: afrodescendente e americana (que, para os ingleses, exerce um fascínio quase como se fosse de outro planeta). E mais: as plebeias que se casaram com outros príncipes não suscitam esse clamor global.
Qual a diferença desses príncipes da Casa de Windsor!? Para começar, essa é uma monarquia que, desde sempre, se orgulhou de ser monarquia e jamais pediu desculpas por sua nobreza. Isso faz diferença. As outras casas reais insistem em levar uma vida discretíssima, perto do normal. A Rainha Elizabeth (e seus ancestrais) nunca fizeram isso; ao contrário: saem de carruagem em meio ao trânsito, comparecem com coroa e cetro em atos públicos oficiais, o que é tradição, e – principalmente – mantêm uma relação de amor-ódio-respeito com a mídia, que está sempre pronta a divulgar exatamente o que eles querem. Só que, como boa filha de italianos, acho que a rainha podia liberar para os convidados dos jardins (cerca de 2 mil) um “fish and chips” básico; afinal, é uma das mulheres mais ricas do mundo.”
Claudia Matarazzo é jornalista, cerimonialista e palestrante.