“Estava eu, no auge dos meus 17 anos, em plena crise de adolescência, insegura em grau máximo, ansiosa em grau inimaginável, achando-me horrenda, sofrendo de bullying pesado na escola e, além disso, tudo com um dos maiores problemas que tinha na vida: a maldita insônia. Meu pai, ao me ver naquele estado, apresentou-me ao meu primeiro tarja preta. Lembro até hoje. Aquela noite foi mágica. Dormi, desliguei a cabeça, e acordei me sentindo outra pessoa. O tempo foi passando, passando e, com ele, as angústias continuaram, assim como a insônia; não só continuaram como também aumentaram. Procurei um excelente psiquiatra, que me passou ansiolíticos, indutores do sono; enfim, as famosas tarjas pretas. Por um bom tempo, questionei-me muito a respeito do uso de tais substâncias, mas, hoje, como não vivo mesmo sem elas, aprendi a encará-las como melhores amigas. Esse assunto pode ser um tabu para várias pessoas que fazem uso e juram que não usam nada. Conheço várias…. Já acreditei muito que a grama do vizinho era mais verde do que a minha; hoje, porém, como uma mulher madura e consciente, não deixo mais me levar nem acreditar na felicidade geral que as mídias sociais mostram. Acho, sim, que devemos usar as ferramentas que estão a nossa disposição graças a muitos estudos e pesquisas. É claro que eu adoraria dizer a vocês que me livrei dessas tarjas pretas e que algum plano B menos agressivo tivesse resolvido meu problema. No meu caso, o que posso falar hoje contra essa minha teoria de vida é a falta de memória. Por um lado, acho até bom…… Quem não tem memórias ruins? O maior problema é quando falo ou escrevo porque sempre me falta “a” palavra. Mas nada que alguns segundos de concentração ou uma procura no Google não resolvam. Não estou, em hipótese alguma, fazendo apologia ao uso; apenas descrevendo que, para mim, elas são necessárias e fundamentais para o meu bem-estar. Cada um precisa ter uma válvula de escape. Infelizmente essa é a minha. Você pode evitar? Faça isso. Não é o meu caso. Tenho usado muito uma frase do Ferreira Gullar, a qual levo dentro de mim para tudo: “Você não pode ser feliz e ter razão.” Como sempre digo, vamos deixar claro que é necessário procurar um médico e não tomar remédio por conta própria. Jamais!”
Carla Benchimol é formada em Administração de Empresas