A vida é feita de memórias. Singelezas selecionadas. Fatos aqui acolá. Coisas sem total importância. Um cheiro. Um sabor. Uma risada. Uma enorme tristeza. Lembranças vão se enfileirando, acumulando e viram novos fatos. Novas memórias de que jamais vivemos. Uma ficção de nós mesmos. Um olhar que colocamos e retiramos. É desse tema que se compõe o O olho de vidro, em cartaz no Teatro Cândido Mendes.
O monólogo “O olho de vidro”, com Charles Asevedo, é um projeto do ator a partir do seu encontro com o livro “O olho de vidro do meu avô”, de Bartolomeu Campos de Queirós. Vera Holtz , Guilherme Leme Garcia e Flávia Pucci dão vida ao texto, reconstruído de forma brilhante por Renata Mizrah em uma dramaturgia na qual a plateia se torna coadjuvante, pois a linha é uma conversa, uma contação de histórias que exige ouvidos.
“Uma das características da narrativa que me tocaram foi justamente essa evocação das minhas próprias memórias – a infância passada na Baixada Fluminense, onde cresci; a relação com minha própria família e a descoberta da homossexualidade. E por que não misturar as memórias do personagem às minhas? Essa proposta partiu de Guilherme Leme Garcia e imediatamente aceitei,” diz Charles.
Reconstruir em espelho a história de vida poderia parecer ousado, mas Charles Asevedo utiliza-se da prosódia mineira para transformar os impasses de um menino, seu primeiro amor, a difícil relação com o pai, a trajetória de professor, as dificuldades de ser ator em uma cadência na qual quem escuta chega à frente da cadeira, não tira os olhos, emociona-se – talvez pensando se aquela memória também não é a sua. É só colocá-la lá, como num olho de vidro.
SERVIÇO:
Teatro Candido Mendes
Sextas e sábados às 20h
Domingos, às 19h