A vida nos leva, na maioria das vezes, a caminhos que jamais quisemos trilhar. Não só por acontecerem acidentes de percurso como também por sermos surpreendidos pela atração de novos caminhos. Essa mudança até pode parecer benfazeja – somos saudados, incensados, mas isso não nos traz felicidade. Tornamo-nos um conflito ambulante. Esse é o foco de “Nara – A menina disse coisas”, no Teatro Ipanema.
Aline Carrocino é uma Nara doce e firme, com uma voz que embala o revival dos anos de ouro da MPB, na montagem idealizada pelo jornalista Christovam de Chevalier. Marcos França, coautor com Hugo Sukman, interpreta os papéis masculinos que dialogam com Nara. O roteiro opta por reviver os conflitos, os amores, as dúvidas da cantora em canções, sem seguir uma óbvia ordem cronológica dos sucessos, mas dando a eles o momento correto de significação dentro da narrativa.
O Brasil conheceu uma cantora que foi popular e contundente – quando unir tais características era possível. E influente quando isso não era medido por likes ou views. E plural, como outras só seriam nos anos 90. E corajosa, tanto por dar voz a canções que criticavam as mazelas do país quanto por suas declarações, muitas delas contra o governo militar de então”, diz Christovam de Chevalier.
Aos poucos, delineia-se o que se apresentar. Nara vai além de ser um espetáculo que nos faz cantar as músicas tão presentes em nossas vidas. É como uma vida que cresce, explode, encolhe, recusa-se a ir embora, mas pulsa na força do que quer, sem medo de ir em frente. Nara Leão foi mais do que uma menina que disse coisas: foi uma artista que soube estabelecer, com humanidade, o território do talento. (Fotos: Janderson Pires)
Serviço:
Teatro Ipanema
Sábados, domingos e segundas às 20h30