Depois de 40 anos de seu álbum de estreia, Zezé Motta está de volta aos palcos, para lançar o álbum “O samba mandou me chamar”, nesta segunda-feira (30/04), no Theatro Net, em Copacabana; depois segue em turnê por várias capitais. Aos 73 anos, Zezé ainda é lembrada pelo papel da sua vida: “Xica da Silva”, de Cacá Diegues, em 1976. O reconhecimento pelo filme ajudou-a a lançar seu primeiro disco, em parcerias com Rita Lee e Roberto de Carvalho, Luiz Melodia e Moraes Moreira. No novo trabalho, 13 faixas de um repertório inédito, com participação de jovens e alguns veteranos, como Arlindo Cruz e Xande de Pilares. Ela gravou “Nós dois” com Arlindo antes da internação do músico, em março do ano passado. Zezé já terminou as gravações das últimas cenas como a Mãe do Quilombo, em “O Outro Lado do Paraíso”.
Esse álbum é um antigo projeto. Por que levou tanto tempo?
Sim, tem mais de 10 anos. Minha vida é uma loucura: ao mesmo tempo em que estou lançando um disco, estou com uma série pronta no Netflix, a ‘3%’ (ficção científica de Pedro Aguilera), finalizando uma novela, com dois filmes, uma série de homenagens, com um livro pra ser lançado, um documentário cuja direção assino. Isso só agora. E, aos fins de semana, sempre viajo por este nosso Brasil gigante, cantando por aí. Quando não me chamam como atriz, me chamam como cantora. O povo gosta de mim.
Ainda fica nervosa nos palcos?
É como se fosse a primeira vez no palco. Lembro-me da minha comadre Marília Pera: dizia que ficava mais nervosa do que eu com uma estreia minha. Às vezes, quando paro pra observar alguns amigos e até a minha produção, vejo que eles ficam mais nervosos do que eu; então é médio o meu nervosismo comparado aos que me amam (risos). Fico pensando se vai ter público e prefiro não saber quem vai estar na plateia.
Como lida com a idade?
Não tenho problema, mas confesso que tive a crise dos 30, 40, 50 e 60; depois cansei – chega. Pra que tanta crise?
A novela está na reta final. Qual o balanço que você faz? Alguma produção em vista?
Que foi extremamente importante e me senti honrada em poder mostrar ao mundo, através de um veículo poderoso que é a TV Globo, que, no nosso país, existem centenas de comunidades quilombolas. Em tempos de um candidato à Presidência como o Jair Bolsonaro, que ofende publicamente pessoas negras e quilombolas, temos mais é que mostrar isso na novela das nove.
Você luta pelos negros desde muito nova. Como vê a situação atual?
O racismo melhorou e muito, em passos lentos, mais ainda temos muito o que fazer, o que mudar, o que lutar e batalhar. Sinto-me com dever cumprido de poder levantar essa bandeira desde os anos 70, e vejo que hoje o cenário já não é mais o mesmo. Os jovens estão empoderados e alguns me param na rua para agradecer – fico emocionada, mas, claro, temos muito ainda pela frente, infelizmente.
E até que ponto você está envolvida no caso Marielle Franco?
O meu envolvimento é total, enquanto brasileira, mulher, humana. Foi um crime chocante, foi uma barbaridade, e não podemos nos calar! Gravei uma faixa linda, ao lado de outras cantoras, para lembrar que esse fato não pode ser apagado. Precisamos de justiça, precisamos que quem cometeu essa maldade pague pelo que fez, e também precisamos cobrar do nosso governo segurança e uma resposta a esse crime; não só esse, mas todos os outros que vêm acontecendo.
Como moradora do Rio, você teria um recado ao prefeito da cidade?
Que melhore a educação no nosso estado. A educação é a maior arma para combater essa questão, é o segredo de tudo – basta comparar com os países desenvolvidos. Que o prefeito seja menos intolerante.