Se Cazuza estivesse aqui, com certeza, o Rio faria uma festa inesquecível pelos seus 60 anos, nesta quarta-feira (04/04). Um dos maiores poetas da música brasileira, cantor, compositor e herói de uma geração, viveu intensamente os anos 80, quando o rock explodiu e conquistou todo mundo através de suas letras no grupo Barão Vermelho e, depois, em carreira solo. Alguns momentos em imagens desse símbolo de transgressão, contestação e precursor da visibilidade gay estarão no livro “Circuito Cultural”, da fotógrafa Cristina Granato, que será lançado no fim deste ano, como os flagras da comemoração de aniversário de 29 anos, em 1986, na boate Castel, em Copacabana, ao lado de amigos, como Bebel Gilberto, do ex-namorado Ney Matogrosso, Marina Lima, Sandra de Sá e Lobão – nesses casos, vale a frase “uma imagem vale mais que mil palavras”.
Nascido e criado numa família de ótima hierarquia carioca, Cazuza tinha uma visão crítica sobre a elite econômica. Lançou “Ideologia” (1988), uma espécie de “grito agarrado na garganta”, que se tornou um hino da época “contra tudo que está aí”: a corrupção, os negócios escusos, a enganação política, a passividade da população etc… O compositor de “O Tempo não para”, que falava “te chamam de ladrão, de bicha, maconheiro/Transformam o país inteiro num puteiro/Pois, assim, se ganha mais dinheiro”, lidaria com a Operação Lava-Jato, com a sua cidade governada por um prefeito evangélico, além da violência, intervenção federal?
Temos boas provas para acreditar que o “rebelde com causa” lutaria contra a caretice no atual contexto do País, subindo em caminhões e discursando contra a corrupção, a violência, e escrevendo sobre todos esses assuntos, como fez na letra de “Milagres”, quando cantava “que tempo mais vagabundo este agora que escolhemos pra gente viver”… E muita gente ainda repete, “atemporalmente”, os versos “mais uma dose, é claro que tô a fim/ a noite nunca tem fim/ porque é que a gente é assim?”, talvez para esquecer, temporariamente, do que vivemos, mas uma coisa é certa: Cazuza faz falta nestes tempos de pouca criatividade, banalidade e rara poesia.