Convidamos alguns cariocas raciocinantes, de perfil e espírito variados, pra dizerem em quem eles atirariam as pedrinhas portuguesas à solta pra todo lado, nesses 453 anos do meu, do seu, do nosso Rio: Antonio Bokel (artista plástico), Eriberto Leão (ator), Guilherme Fiuza (jornalista), Jorge Pontes (delegado), Luciana Caravello (galerista) e Márcia Tiburi (filósofa). Com críticas, elogios, dúvidas, algumas certezas, muitos não trocam o Rio por nada neste mundo. Nesta quinta-feira (01/03), Dom Orani Tempesta, ao levar a imagem de São Sebastião, padroeiro do Rio, para o Largo da Carioca, disse: “Nós pedimos a Deus, junto a São Sebastião, que proteja nossa cidade para que a gente tenha paz e prosperidade. Que o povo que aqui caminha possa cada vez mais ter paz”, disse o cardeal. Tomara que suas palavras sejam ouvidas – também pela “entidade” ausente, o senhor prefeito Marcelo Crivella. Seguem os depoimentos em ordem alfabética:
Antonio Bokel (artista plástico): “Não atiraria em ninguém; preferiria reconstruir. A ter de atirar em alguém, seria em mim mesmo, por ser tão responsável, como todos nós, pelos políticos e por tudo aquilo que reclamamos.”
Eriberto Leão (ator): “Jogaria as pedrinhas no véu que está cobrindo a nossa potencialidade de solucionar, essa sim, muito maior do que os problemas que estamos vivendo. Tenho orgulho de morar no Rio, cidade que me emociona há 17 anos e que me encanta diariamente. Isso não significa que eu não veja os problemas. Vejo também que o que fazemos aqui vai pro mundo inteiro. É sempre mais fácil pensar que a culpa é do outro. Aproveito e cito Raul Seixas: ‘Meu egoísmo é tão egoísta que o auge do meu egoísmo é querer ajudar’. A solução está em todos nós; estamos muito focados nos problemas, e não nas soluções.”
Guilherme Fiuza (jornalista): “Nestes tempos de Intervenção Federal, eu não atiraria as pedras porque eu não quero machucar ninguém. Eu chamaria pra recolher e recolocá-las no lugar quem está tentando sabotar a organização da zona, pra salvar suas fantasias de heróis. É muita covardia ficar julgando precipitadamente, é revoltante. É um tema grave que envolve todos nós, principalmente a população das favelas. É uma insensibilidade sair todo mundo correndo pra dizer o slogan melhor.”
Jorge Pontes (delegado): “Eu jogaria esse monte de pedras em toda a classe política carioca; mas, se tivesse que mirar em só um deles, jogaria tudo no Sérgio Cabral, que, hoje sabemos, fez apenas roubar e dilapidar o Rio, aprofundando ainda mais o problema de segurança pública, e nos deixando nesse buraco, e, para piorar, sob a batuta do seu incompetente substituto, o Pezão. E como há muita pedra portuguesa solta nos calçadões da cidade, eu o soterraria de forma que nunca mais saísse de debaixo das pedras.”
Luciana Caravello (galerista): “Eu jogaria no Sérgio Cortes (ex-secretário de Saúde do Governo Cabral) porque não tem perdão um médico, que sabe o que é o sofrimento de uma doença, roubar e superfaturar remédios, deixar pessoas sem próteses durante um ano em filas. Muitas pedras portuguesas nele! Falar de Crivella e Pezão é meio óbvio, né?”
Márcia Tiburi (filósofa): “Talvez todo mundo queira jogar pedras sobre o prefeito Crivella. Pobres das pedras, pensarão eles? Ao mesmo tempo, quem se sente cristão “não atiraria a primeira pedra”, não é mesmo? Muito menos os cristãos que o elegeram… Eu não atiraria nenhuma pedra, embora não tenha votado nele, porque amo a democracia e vamos ter que encarar que Crivella – foi a vontade do povo. E o povo tem que ser respeitado mesmo quando ele não sabe disso. Tem gente atirando pedras e pedindo seu impeachment, mas antes deveriam buscar alternativas para o Rio para além da falta de projeto que ganhou a Prefeitura. Como manter o Rio vivo apesar do prefeito, do governador e do presidente golpista que o instrumentaliza com uma intervenção com fins eleitoreiros e eugenista? De fato, seria catastrófico, do ponto de vista estético e histórico, que as pedras portuguesas fossem substituídas por cimento como desejam alguns, provavelmente interessados em lucrar com isso… Sinceramente, se não frearmos as ânsias capitalistas que unem governos e religião no espírito capitalista, daqui a pouco haverá quem sugira asfaltar o mar…”