Ana Durães, consultora de artes plásticas da TV Globo, vai inaugurar exposição dia 28 de março, na galeria Artifact, no Soho, Manhattan, Nova York. “A cidade americana é o centro do mundo, e ter uma mostra numa galeria particular, depois de mais de 30 anos de trajetória, é ter um sonho realizado. E estar no circuito de galerias na cidade é um reconhecimento do esforço de uma vida inteira dedicada à arte”, diz a mineira de Diamantina, que escolheu o Rio para viver desde a década de 1980. Ela também vai fazer curadoria para a próxima novela das nove, “Segundo Sol”, de João Emanuel Carneiro, que estreia em abril. Ana é uma espécie de “ghost painter”, ou seja, uma dublê de pintores da ficção, e já esteve na telinha em “Cheias de Charme” (2012), nos trabalhos do grafiteiro Rodinei (Jayme Matarazzo). A experiência como “pintora fantasma” começou em 2009, quando fez as telas para a personagem Lena (Débora Bloch), na minissérie “Queridos Amigos”. Também assinou as pinturas para Laura (Ana Paula Arósio) na novela “Ciranda de Pedra”, além de “Império” (2015), de Aguinaldo Silva.
Como vai ser a exposição em Nova York?
Eu pinto o Brasil, não o foclorizado de tucanos e papagaios. Nesta mostra, investigo o Brasil profundo. São obras que fiz a partir de viagens e investigações do Cerrado brasileiro. A natureza é densa; as cores, terrosas; a luz, profunda; as árvores, quase sempre secas. Mas o resultado não interessa somente a quem conhece o Cerrado. Acho que a minha interpretação dessa natureza pode atingir qualquer pessoa, culturas diversas. Interessa-me também mostrar que não só a Amazônia precisa ser preservada; outros biomas devem ser vistos e cuidados também.
O que espera da mostra?
Quando a gente cria, quer que vá para o mundo. Gostaria que a comunidade brasileira que vive na América veja esse Brasil que retrato, mas gostaria imensamente de provocar curiosidade em todos que passarem por lá. Acho que uma obra universal deve atingir a todos, sem restrição.
Como você definiria seu estilo?
Esta é uma pergunta bem difícil. Primeiro, é uma arte contemporânea, mas tem uma pegada de técnicas de camadas de tintas, como faziam os artistas clássicos; a linguagem, porém, é contemporânea. Misturo materiais, pinto, repinto, sobreponho. É como se eu acumulasse toda uma vida. Acho que sou pop, barroca e contemporânea, tudo junto e misturado.
Quais foram suas principais influências?
Comecei a pintar aos 5 anos. Vivia no interior e não conhecia nada de arte. Pintei figuras de Walt Disney, casarios de Diamantina. A primeira escola que fiz foi a Guignard, em Belo Horizonte, e me deparei com um mundo imenso. Descobri os pintores modernos brasileiros, os clássicos estrangeiros. Quando entrei para a Escola de Belas Artes do Rio, fui muito influenciada pelo vigor do expressionismo alemão. Participei do movimento ‘Geração 80’; éramos muito livres e experimentávamos muito. Também tive influência da pop art americana. Mas a delicadeza da pintura do Guignard é hoje uma grande influência.
Qual trabalho para novela você destaca?
Esse trabalho me faz muito feliz e estou nisso há 10 anos. Um dos mais criativos foi para a novela “Império” (2015), de Aguinaldo Silva. O personagem Domingos Salvador, interpretado por Paulo Vilhena, era um pintor esquizofrênico, e eu pintei todas as obras.Foram mais de 100. A visibilidade foi tão grande que eu fiz uma exposição na Galeria Luiz Maluf, em São Paulo, depois que a novela acabou.
Por Viviane Faver, de Nova York