Atualmente, existem mais vegetarianos e veganos no Brasil do que nunca. Essa não é uma afirmação baseada nos milhões de fotos com a hashtag #vegan no Instagram. Sem números exatos, estima-se que 4% da população, mais ou menos 7,6 milhões de pessoas, são vegetarianos e veganos, segundo o Instituto Ipsos. Junto a isso, surgem alguns termos como “vegansexuais”, que apareceu em 2007, num estudo na Nova Zelândia, mostrando que a maioria dos veganos entrevistados preferia namorar ou transar com outros veganos. “Vira e mexe, alguém toca nesse assunto. Não consigo detectar um número de pessoas que aderem a isso, mas existem aplicativos de encontros voltados só para vegetarianos (Vinder entre outros), comunidades no Facebook, mas, em números, ainda é abstrato”, diz George Guimarães, presidente da ONG Vegetarianismo Ético, Defesa dos Direitos Animais e Sociedade (VEDDAS), que namora outra vegana, Toots Tamires.
Aos 42 anos, George é vegetariano desde os 4 e vegano há 18 – enquanto o primeiro abre exceções, o segundo tem uma ideologia mais forte de proteção e respeito aos animais, quase dogmas. Ele é diretor da Nutriveg Consultoria e Nutrição Vegetariana, conselheiro do Instituto Abolicionista Animal e membro-fundador da Sociedade Vegana (2010). Lembram-se do caso do navio com 27 mil bois que partiu do cais de Santos para a Turquia? Ele estava lá, tentando impedir a partida da embarcação, que seguiu viagem.
Como foi essa certeza de se tornar vegetariano aos 4 anos?
A opção foi minha desde que percebi que o animal tinha que morrer para eu comer. Na verdade, não é incomum uma criança, nessa faixa etária, começar a recusar carne ou expressar aversão quando faz essa relação. Para estar no prato, o animal teve que ser morto. Meus pais insistiram, claro, porque não havia informações naquela época, e eles ficaram preocupados com a minha saúde; escondiam carne no meio da comida, mas eu fui teimoso o suficiente para negar. Mas foi só em 1994 que comecei a pesquisar e descobrir os problemas no consumo de leite e derivados. Aí, então, me tornei vegano.
Sentiu ou sente dificuldade em encontrar alimentos?
Não só quando criança, mas também quando me tornei vegano, há 24 anos, não era como hoje. Não tínhamos nenhuma opção de leite vegetal, a não ser leite de soja em pó ou carne de soja. Não existiam esses chocolates, hambúrgueres, tofus com diferentes sabores. Mas você não precisa de nada que se pareça com carne ou leite, mas só estou comentando sobre a dificuldade de encontrar os produtos – para quem está em transição, hoje é muito mais fácil. Mas minha alimentação foi sempre baseada em alimentos naturais e integrais, como legumes, frutas, cereais. Hoje, a pessoa que quer aderir à filosofia nem vai sentir falta porque tem o hambúrguer de grão de bico com queijo vegano que derrete, doces diversos etc. Nunca deixei de encontrar alimentos naturais em qualquer lugar do mundo.
Qual sua principal luta hoje em dia?
Eu presto orientação como nutricionista e em termos de ativismo, tento despertar para a problemática da exploração animal, já que as pessoas são parte disso, e elas devem fazer uma opção consciente.
Acredita que existam muitos “vegansexuais”?
Não consigo destacar um número. Temos aplicativos de encontros voltados só para vegetarianos/veganos, comunidades de Facebook onde as pessoas encontram outros veganos, mas é abstrato ao falar em números. O que posso argumentar é que os veganos exigem ter um parceiro com a mesma motivação porque o veganismo vai além da comida: é uma ideologia de vida.
Não seria uma forma de preconceito?
Não é aquela coisa radical, tipo ‘não quero saber de você já que consome carne ou laticínios’, mas é como se uma feminista arrumasse um namorado machista – não existe compatibilidade. Geralmente, você escolhe alguém para dividir o tempo, suas ideias, seus sonhos com alguma expectativa de entendimento. Não vai dar certo se cada refeição se tornar um conflito, se a pessoa presencia um cavalo chicoteado na rua e a outra não entende o motivo da revolta… Essas coisas são incompatíveis no sentido afetivo, para a maioria. Mas sei de casos de pessoas que convivem com isso, mas geralmente já namoravam antes de virarem veganos. O caminho natural é que ou a pessoa ou os dois mudem a alimentação, ou tudo será fator de estresse no relacionamento, e isso passa a ser insustentável.
Algumas pesquisas já concluíram que a vida sexual de vegetarianos e veganos pode ser melhor, porque alimentos, como tofu e vegetais, influenciam nos níveis de hormônios, por exemplo, aumentando o estradiol, conhecido como o “hormônio do sexo”. Existe realmente alguma diferença na vida sexual entre aqueles que comem carne e os que se abstêm?
No aspecto nutricional da dieta, a baseada em vegetais é mais rica em fibras, em substâncias protetoras. Se você ingere gordura saturada, isso pode entupir as artérias e até levar ao infarto, coisas que afetam a vida sexual, assim como capacidade respiratória, física e irrigação sanguínea, impedindo a capacidade de ereção. A incidência de disfunções eréteis é menor entre os mais saudáveis, caso dos vegetarianos.
Existe realmente alguma diferença entre os fluidos corporais de veganos e carnívoros?
De pesquisa, não, mas ouvi relatos informais de que os fluidos dos corpos mudam. Dizem que há uma diferença no sabor do esperma, que dos veganos seria mais adocicado, com menos gosto de amônia, menos ácido, coisas do tipo. A alimentação saudável também ameniza a acidificação dos fluidos femininos, o que afeta o sabor.