O economista carioca Fábio Szwarcwald sabia muito bem no que estava se metendo ao assumir a direção da Escola de Artes Visuais do Parque Lage, no Jardim Botânico, em março do ano passado. Tombado como patrimônio histórico, o local tornou-se referência na formação de artistas, especialmente depois da fundação da EAV, em 1975. Mas, sem os repasses prometidos pelo governo, a instituição cortou funcionários, extinguiu 250 bolsas de estudo e até ameaçou fechar as portas.
Fábio, especializado em finanças e gestão empresarial pela Fundação Getúlio Vargas e pelo IBMEC, ex-vice-presidente do banco Credit Suisse e membro do Conselho de aquisição do Museu de Arte Moderna (MAM), assim como do New Museum, em Nova York, segue pilhado nesse trabalho no Parque, promovendo eventos, ali, do escritório, com clima da floresta, como aconteceu em dezembro, com um jantar beneficente da EAV e conseguiu arrecadar R$ 238 mil. Foi dele também a ideia do financiamento para a montagem da exposição “Queermuseu”, vetada no Museu de Arte do Rio por Marcelo Crivella.
Sempre às voltas com um bom papo, um café, uma taça de vinho e de, preferência, um quadro, uma escultura, qualquer arte por perto, é colecionador. De uma conversa com ele, num instante fica-se sabendo muito do mercado e de muitas outras coisas nesse sentido.
A decisão de tantos artistas doarem trabalhos para o leilão a favor do Parque Lage, dia 15 de março (incluindo aí a exposição Queermuseu), na galeria Anita Schwartz, tem um grande significado?
O engajamento artístico doando obras para o leilão comprova a importância desta nossa iniciativa contra a censura, o que revela uma grande manifestação de generosidade e responsabilidade pública desses artistas que não são participantes da Queermuseu, mas encontraram uma forma atuante de apoiar o movimento que vai trazer a exposição para o Rio.
Ser um colecionador facilita sua vida como diretor do Parque Lage? Isso o influenciou a aceitar o cargo, considerado por muitos uma batata-quente?
Quando resolvi deixar o mercado financeiro pra trabalhar com arte, não estava nos meus objetivos ser diretor da EAV Parque Lage. O meu projeto, que, inclusive, já estava em fase de execução, era montar um espaço cultural na Z42. No início de 2017, o então secretário de Cultura, André Lazaroni, me chamou pra conversar e me convidou a assumir esse desafio. Na altura, deixou muito claro que as coisas seriam bastante complicadas pra mim, os salários estavam atrasados e, como é sabido, o governo passava por dificuldade financeira jamais vista. Mesmo ciente da aridez do cenário, acreditei que, com minha experiência na iniciativa privada e com uma visão mais amplificada, poderia ajudar a EAV a ter uma nova forma de gestão, com foco grande na qualidade de ensino, em novas parcerias nacionais e internacionais, e no desenvolvimento de uma plataforma de captação que fugisse da dependência do estado. E é exatamente o que venho fazendo.
Qual o balanço você faz desde que assumiu a diretoria, sem os repasses prometidos pelo Governo do Estado?
Meu balanço é extremamente positivo. Apesar das dificuldades financeiras do estado, estamos fazendo um trabalho que vem sendo reconhecido por todos que participam do nosso dia a dia, bem como os usuários do Parque. No ano passado, criamos o Parquinho Lage, uma escola para o público infantil, que já é um sucesso, com mais de 600 crianças, sendo 25% com gratuidade. Realizamos ainda mais de 50 aulas abertas, com entrada franca. Em 2018, vou ampliar esse percentual de bolsas, trazendo alunos de escolas públicas para estudarem conosco. É fundamental vitalizarmos a arte. Ainda este ano, lançaremos um programa de bolsas de formação de 10 meses para todos aqueles que querem trabalhar como artistas, curadores ou conhecer mais profundamente o assunto. Os planos da EAV para 2018 são intensos, com programas inéditos, em que as pessoas terão cada vez mais oportunidades de participação e estudos.
Qual a importância de uma exposição como essa para o público carioca?
O Rio foi, por muitos anos, a capital cultural do Brasil – tudo o que fazíamos aqui reverberava nacional e internacionalmente. Isso não deixou de acontecer, só que de forma inversa, mostrando todas as dificuldades em lidar com a violência e a corrupção em geral. Atualmente, quando a pauta é o Rio, só aparecem os aspectos negativos, que também incluem a censura ocorrida. Precisamos trazer uma agenda afirmativa e produtiva pra cá. A Queermuseu
se propõe a abrir o diálogo através de um fórum que acontecerá em paralelo à exposição, dando oportunidade a todos de tratar assuntos pouco falados. A cidade é nossa, e estou dando minha contribuição, trabalhando com muito afinco para valorizar nossa cultura.
O que achou do Crivella censurar essa exposição?
Acho um absurdo completo o Crivella querer impor suas vontades pessoais! Ele é prefeito, e não um censor; não cabe a ele censurar qualquer manifestação artística. Crivella não fez nada para a cultura até agora; na verdade, fez sim: censurar tudo que não acha que é bom na sua opinião pessoal e religiosa.
Quais os seus maiores desafios à frente desse posto?
São vários os desafios, mas o maior é conseguir sustentabilidade financeira para que a EAV desenvolva todo o seu potencial, dependendo, cada vez menos, do dinheiro público que, como você mesma falou, está cada vez mais escasso na área cultural.