A humorista Dadá Coelho não pulou sete ondas nem jogou oferendas para Iemanjá na virada de ano, mas vai começar 2018 escancarando algumas portas com “muito humor e amor”, como diz. A atriz volta ao palco do Teatro Clara Nunes, no Shopping da Gávea, no dia 18 de janeiro, com o espetáculo “Corta!”, de Vinicius Soares e Márcio Azevedo, ao lado do ator Beto Caramanhos, depois de lotar todas as sessões no ano passado – temporada encerrada sob dor, depois do incêndio. “Fiquei desarvorada. Um teatro fechar é como uma criança que deixa de ir à escola”, lamenta. Sete meses depois, o espaço vai reabrir com 800 lugares – em vez dos 435 de antes – e, segundo Dadá, com sucesso também em dobro. “Vou fazer uma promoção: se a pessoa levar uma carta comprovando o nome sujo no Serasa, ganha 50% de desconto. Vamos falir”, diz ela, sempre afiada.
Enquanto se recuperava do baque do incêndio, foi corroteirista dos filmes “Tudo por um Popstar”, ao lado da escritora Thalita Rebouças, e de “Lucicreide vai pra Marte”, de Rodrigo César, com Fabiana Karla; interpretou uma manicure no filme “Correndo Atrás”, baseado no livro “Vai na Bola, Glanderson!”, de Hélio de La Penã, sob a direção de Jeferson De. Ahhh. Quanto ao amor citado lá no início, ela comemora dois anos de namoro com o ator Paulo Betti. “Estou casadérrima e muito feliz. Encontrei Jesus.”
Qual o sentimento de uma volta depois de perder tudo no incêndio?
Estamos voltando com força total, com o mesmo cenário, mesmos figurinos… Mas não posso negar que foi um baque violento, porque a gente estava bombando. Estava me sentindo a própria Fernanda Montenegro no palco. A ficha demorou a cair, mas, graças a Deus, recebemos muita energia positiva porque parece que o público sente gratidão por quem faz humor, ainda mais neste momento tão difícil do País. Todo dia agradeço a Deus a ‘graça’ alcançada. É uma alegria para o Rio receber esse teatro maravilhoso. Estou com o coração escancarado.
O humor salva?
Eu acho que, se tiver graça, está tudo perdoado. O humor é um colete salva-vidas desse naufrágio. Estamos precisando rir, porque está tudo muito sério. Nasci entre 13 irmãos, no Nordeste. Na briga pelo osso da galinha, eu tinha que me destacar em algo.
Como lida com a exposição das redes sociais?
Brasileiro é bicho que parece com gente. As redes sócias criaram um bando de monstros e legitimou idiotas. Maldito século XXI. Acho que existe uma necessidade de orar a ‘Nossa Senhora do like alcançado’. Tenho uma relação bipolar, porque acho que lá somos todos Didis em buscas de Dedés para valorizar nossos esquetes. Acho genial o fato de você ser o Roberto Marinho de si mesmo, mas depende do conteúdo que você vai colocar e falta bom senso no mundo. As pessoas têm uma coisa de aparecer, polemizar… Chega fim de ano e todo mundo deseja paz, amor, dinheiro, mas não deseja bom senso pra ninguém.
Aliás, nas redes, você costuma postar fotos sensuais. O assunto sexo é um muito presente em sua vida?
O nu é a aceitação do próprio corpo. Tanta coisa ruim por aí, como a fome voltando, a tuberculose… E o povo preocupado com posts de lingerie alheio! O sexo rege tudo. A gente só está aqui porque alguém lá atrás comeu alguém. Você percebe que brasileiro enaltece bunda, come bunda, fala de bunda, mas, na hora de falar de bunda, chama de bumbum? É uma hipocrisia só. Queria ser a presidente do País para fazer o ‘bússola família’, porque só tem gente desorientada.
Sendo nordestina, já sofreu preconceito?
Muito. Eu sempre tive que me provar duas vezes, porque, além de ser mulher, sou nordestina; para mim, é uma luta diária. Acho que o nordestino tem essa coisa de arrancar a vida com os dentes. Uma vez, uma mulher famosa disse que me achava inteligente, mas preferia trabalhar com um homem na área do humor. Gente, mas a coisa que eu tenho mais medo na vida é ser inteligente.
E o que acha do feminismo?
Tenho horror a essa expressão ‘empoderamento feminino’ – me lembra pó e apodrecimento. Mas sou um pouco feminista, sim. Comecei a vender manga e milho pra comprar meus livros quando tinha 11 anos. Mas não gosto dessa coisa de diminuir os homens – acho uma cafonice intelectual. Não pode radicalizar, porque tem uma galera que está muito chata com esse negócio. Não gosto de extremistas.
É vaidosa?
Minha bunda está caindo e tenho que chamar a Defesa Civil, mas ‘quem está comendo não está reclamando’, como diria Tati Quebra Barraco. Tenho preguiça de padrão de beleza. Sou vaidosa, gosto de me alimentar bem, mas nunca serei magra. As pessoas estão doentes, cara! Chego ao Projac e me sinto o Péricles, do Exaltasamba. Ninguém come. A gente tem que gostar da gente, se amar, a autoestima não é o que os outros acham: é a energia do esforço para vencer a si mesma.
Você se dá bem com as ex-mulheres de Paulo (Maria Ribeiro, Eliane Giardini e Mana Bernardes)?
São “ex-petaculares”; na realidade, só fiquei com ele por causa delas. Pensava: ‘Quem é esse homem que pega todas essas mulheres maravilhosas?’ Sou apaixonada por todas. Aliás, foi a Mana (Bernardes) que me deu o Paulo. Eu estava no aniversário dela, e ela me disse que estava terminando com o Paulo e queria que eu ficasse com ele. Ela deu meu número de celular, e ele me chamou para assistir a uma peça que ele estrelava, e estamos juntos até hoje. Aquilo foi de uma grandeza…