Desde que postou um vídeo no Facebook, nessa sexta-feira (22/09), Valéria Monteiro, ex-apresentadora do Fantástico entre 1988 e 1991 e do Jornal Nacional em 1992, viu sua vida transformar-se. O assédio do Brasil inteiro foi surpreendente. A atual produtora de TV em Campinas está se lançando candidata à Presidência da República e se declara sem experiência política, apesar de gostar do assunto desde criança. Sua avó paterna, Marta Nair, foi uma das primeiras deputadas mulheres do Brasil. “A coragem aparece quando você se vê sem possibilidades: ou faz alguma coisa, ou aquilo te aniquila. Espero que tenha muita gente que veja na minha proposição um futuro melhor”, diz ela, afirmando que vai seguir nesse rumo. Leia sua entrevista:
Foto: Vitória Monteiro
Quem te apoiou nessa decisão de se lançar pré-candidata à Presidência da República? Não teve medo de ser alvo de deboche, perder sua credibilidade como jornalista?
“Há um tempo que penso nisso, mas tive receios de uma atitude tão drástica mesmo, ainda mais porque eu mesma tive preconceito com políticos. Desde o começo, fui conversando – uma mistura com apoio, instantaneamente. Fui, aos poucos, para saber o que meus amigos e conhecidos achariam. Alguns se mostraram bem receosos com essa minha proposta, por temer que eu me meta nesse meio de raposas e do risco moral que eu estou correndo, tal o descrédito que existe na política. Mas tive muito apoio, daí veio a força. Trago uma proposta de ativismo, de uma esperança motivacional: é disso que a gente mais precisa”.
Então, você vai seguir com a ideia?
“Isso é sério, apesar de saber que a surpresa é muito grande. Fui conversar com partidos e políticos, alguns por quem tenho respeito. Estou tateando. Minha ideia é fazer uma anticampanha, com o objetivo de levar as vozes de quem não está representado por esses candidatos. Partido é obrigatório, preciso arrumar um”.
A quais partidos você nunca iria aderir? E com que políticos você não faria, jamais, nenhuma aliança?
“É difícil falar ‘jamais’. Não sei se devo fechar essas portas num momento em que eu preciso de apoio de um partido. Acho que não aceitaria os grandes; estou na contramão deles, que são os que movimentam mais a discussão. E já têm candidatos, também”.
Qual é a sua orientação político-ideológica? Aceitaria um vice gay?
“Sou humanista, centro-esquerda, ou centro-humanista. Um vice-gay, por que não? Sou totalmente contra discriminação – a democracia deve ser realmente representada, com toda a amplitude”.
E sobre o aborto, o que você pensa?
“O corpo é da mulher. Sou favorável à descriminalização do aborto. Sou a favor do direito de escolha”.
O que você quer dizer quando convida as pessoas a fazerem ativismo político?
“Hoje, preciso demonstrar que tenho apoio. Muitos de nós gostariam que existisse a possibilidade de candidaturas independentes, já que os partidos caíram num descrédito enorme, e a maioria de nós vota em pessoas. Só que o sistema permanece antiquado e força, a quem quer participar de uma discussão, a se engajar num deles. Preciso que as pessoas me ajudem a chamar a atenção de algum partido com alguma ideologia, que esteja disposto a peitar essa transformação. Gostaria de um partido que me desse uma plataforma independente”.
Se a candidatura à Presidência não tiver apoio, você topa se lançar a senadora, deputada federal?
“Já tive partidos que me sugeriram, mas não é o meu objetivo; minha decisão foi circunstancial. Eu me considero uma pessoa comum, que teve a chance de ser mais conhecida. Eu gostaria de me colocar a serviço dessas pessoas também comuns, se virem que há em mim um eco do que elas pensam, um feixe de esperança”.
Quando você diz que um país não pode ser governado como uma empresa está fazendo alguma referência a João Doria, empresário que hoje governa a cidade de São Paulo?
“Não, estou me referindo a uma forma de pensar; no fim das contas, a economia deve ser levada de forma que tenha responsabilidade, mas, ao mesmo tempo, deve visar ao bem-estar das pessoas. A riqueza de um país é a qualidade de vida, a forma como a gente usa os recursos que o país tem pra uma justiça social, uma condição melhor para todos – tanto para empresários quanto para qualquer um que esteja lutando pela sobrevivência diária”.
Na sua visão, fazer comício, carreata e participar de corpo a corpo com eleitores são modos antigos de fazer política?
“Gostaria muito de percorrer o Brasil. É importante que cada candidato entenda o país, e essa diversidade toda que a gente falou aí, de proporções continentais. É importante conversar em diferentes lugares. Penso em fazer uma caravana e documentar isso. Sim, um documentário. E, ainda, as ferramentas digitais devem ser exploradas para um contato mais direto antes, durante e depois”.
numero: 10 O impeachment sofrido pela presidente Dilma, primeira representante do sexo feminino na Presidência, pode ter tornado as coisas mais difíceis para uma mulher chegar ao Planalto?
“Temos uma tradição machista muito forte, e todas as profissões sofrem uma força contrária, mas não acho que uma experiência negativa possa influenciar outras. Tantos homens foram eleitos depois do Collor, que também foi impedido…”