Muito antes de ser finalista do “The Voice” e interpretar a Luzia de “Velho Chico”, a paraibana Lucy Alves já tinha muita estrada como cantora e instrumentista. Sua carreira começou ainda criança, quando aprendeu violino e participou como solista da Orquestra Sinfônica da Paraíba e da Orquestra de Câmara de João Pessoa. Mas foi com a sanfona, seu instrumento preferido, que ela, aos 16 anos, começou a tomar parte no grupo Clã Brasil, formado por seus pais, três irmãs e mais dois filhos de um amigo da família. Além de ter feito inúmeros shows, Lucy gravou com o grupo oito álbuns e dois DVDs. Com o último disco, “No Forró do Seu Rosil”, o Clã Brasil foi indicado, em 2016, ao Grammy Latino na categoria Melhor Álbum de Música Regional ou de Raízes Brasileiras.
A formação musical e cultural de influências bem nordestinas deu cor e verdade a seu personagem na novela da Globo, primeiro trabalho como atriz, pelo qual foi indicada como Melhor Atriz pelo Prêmio APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte) e ganhou como Melhor Atriz Revelação, no Prêmio Melhores do Ano, do Faustão, e como Revelação Feminina, no Prêmio Extra de Televisão.
Lucy está testando, agora, a mistura de música eletrônica com forró em “Caçadora”, música recém-lançada, que revela um lado mais sensual da artista, numa letra que fala de mulheres livres e determinadas. Em vez de um choque de estilos, Lucy abre possibilidades, com autenticidade e energia.
Foto: Sergio Baia
Lucy, você estudou violino clássico e chegou a tocar nas orquestras sinfônicas da Paraíba e do Recife. Nunca pensou em seguir a carreira de violinista?
“Sempre gostei do violino, mas não sentia a mesma eletricidade que senti ao tocar baixo, bandolim ou sanfona. A experiência na orquestra foi muito importante para o meu olhar para a música de câmara, para adquirir mais respeito pelos naipes, para ter disciplina e ter respeito pela música. Tive uma maestrina em minha vida que considero minha mãe musical, a argentina Norma Romano. Dona Norma, além de conduzir o trabalho com as orquestras na Paraíba, sempre me incentivou a me aventurar por outros instrumentos, como charango e harpa. Até harpa toquei na orquestra! (rs) Ela é um exemplo de mulher. Muito inteligente, musical e de muito pulso e força. Eu levei isso pra minha vida de instrumentista. Dona Norma tinha uma vitalidade incrível! O violino é mais uma cor de minha aquarela”.
Com sua família, você participou do Clã Brasil, grupo ligado à música do Nordeste. A cultura pop não fez parte da sua juventude? Teve alguma influência de artista estrangeiro?
“A música sempre esteve presente na minha casa, não apenas a de raiz nordestina, mas a música brasileira em geral, mesmo. Choro, bolero, samba, MPB e também o forró com influências de Luis Gonzaga, Jackson, Dominguinhos, Jacó do Bandolim. Essas são as minhas maiores influências, mas eu também gosto de música pop, de dançar ouvindo Beyoncé, por exemplo.”
Os compromissos com a música não atrapalharam sua infância e adolescência?
“Minha infância e adolescência foram permeadas pela música, sim. Tive contato com brinquedos, brincadeiras, família, e foi muito bom ter tudo isso ao mesmo tempo. Sempre junto e misturado. Pelo contrário, a música sempre me levava para tribos diferentes, me apresentava a novos amigos pelo caminho…ela só agrega. Eu era bem traquininha! Uma curumim que vivia correndo, subindo em árvore, e no primário mexia com todos os colegas! Ao mesmo tempo, convivi muito com pessoas mais velhas, porque já tocava também e gostava de frequentar as rodas de choro da cidade, acompanhada de meu pai. Os amigos de meu pai também tocavam e eu gostava de acompanhar. Considero minha infância e adolescência bem normais”.
Como surgiu essa oportunidade de estrear como atriz em “Velho Chico”? Guardou alguma lembrança do seu convívio com o Domingos Montagner?
“Tinha sido chamada pra um teste pelo Luis Fernando Carvalho para uma minissérie, mas na ocasião não fui escalada. Depois de um tempo, ele me pediu que fizesse um teste para ‘Velho Chico’ e aí deu tudo certo e eu ganhei esse presente incrível que foi a Luzia. Do Domingos a gente só guarda lembranças boas. Uma pessoa de uma delicadeza, um grande ator que sempre estava disposto a ouvir o que os outros tinham a dizer, dar dicas, incentivar, sobretudo os que estavam começando, como eu. Domingos foi um parceiro de cena muito generoso, um artista incrível. Não tenho dúvidas de que o crescimento da Luzia só aconteceu em função dessa nossa parceria. Para mim foi uma experiência maravilhosa, amei descobrir que consigo me expressar artisticamente de uma nova forma, despertar ideias e sentimentos nas pessoas. Estou colhendo os frutos até hoje deste trabalho inesquecível”.
Sua nova música de trabalho, “Caçadora”, fala de uma mulher bem livre. É intenção sua mostrar uma imagem mais sexy?
“O que pegou de cara nessa música, assim que ouvi, foi o ritmo. Ela mistura música latina com ritmos da gente e tem aquele toque de eletrônica que há tempos eu queria experimentar na minha música. Tenho 31 anos, gosto de dançar, ouço muitos tipo de música e queria mostrar esse outro lado, que talvez o público ainda não conheça. Ampliar as minhas possibilidades, me jogar mesmo. Acho que toda a minha bagagem na música me dá segurança e aval pra experimentar novos caminhos, mas nada me impede se amanhã gravar uma valsa, um forró, uma balada…”
Está conseguindo namorar tanto quanto queria?
“Essa vida é corrida, mas cheia de gente e surpresas. Meu compromisso mais sério e duradouro tem sido com minha sanfona. De qualquer forma, sempre tem um sorriso, um chameguinho para acalentar o coração no meio dessa loucura toda. Agora veio uma ‘Caçadora’ pra ajudar também.”
Você chegou a participar da banda do Alceu Valença. Tem algum episódio divertido para contar sobre essa época?
“Alceu é incrível! Ele tem tanta energia, verdade e loucura nata, coisas de gênio mesmo. Era tudo muito divertido. Adoro a autenticidade e a forma como ele se expressa. Agora não consigo lembrar de nenhum episódio específico, mas dei muita risada com ele e sua banda”.
Já sofreu algum tipo de assédio parecido com o caso José Mayer?
“Nunca”.
Qual será seu próximo trabalho como atriz?
“Estou estudando algumas propostas para o cinema e para a TV, mas no momento quero voltar a cantar muito, mostrar meu novo trabalho. Pretendo continuar atuando, já que gostei muito dessa experiência, mas sem deixar a música de lado”.