Crivella não ter ido entregar a chave da cidade, ah!, não foi bacana. Muito pior, porém, foi deixar as pessoas plantadas por horas à sua espera, e até com um certo suspense. Suspense que seguiu para os desfiles das escolas de samba, na Marquês de Sapucaí, naquele vai-não-vai, chega-não-chega a que todos foram submetidos. Até os próprios secretários davam entrevistas sem querer afirmar a presença ou a ausência do prefeito. Crivella está entre os prefeitos mais simpáticos do Rio. Demonstra também ser muito atencioso e, ainda, dono daquele perfil sempre pronto a um elogio na ponta da língua. Por isso mesmo, não há como desconsiderar sua atitude para com o Rei Momo, o músico Fábio Damião dos Santos Antunes. E, de mais a mais, o carnaval, numa cidade falida cujo turismo tem tanta importância, não pode ser ignorado. Não é papel que pegue bem a um prefeito – precisa respeitar o tempo dos outros, que são, de alguma maneira, seus subordinados. E todos ali eram, ainda mais nesta época, principalmente, quando, na cabeça de todo mundo, o prefeito de um lugar como o Rio, capital do carnaval, é de grande relevância. Foi eleito e precisa abraçar a cidade para a qual se propôs tomar conta. É muito bonito pregar que vai governar para todos, como se comprometeu Marcelo Crivella na época da campanha. O intelectual alemão Max Weber defendia, sobre a ética da responsabilidade, que não se pode impor os seus valores morais; é preciso administrar em nome do bem comum, e não em nome de convicções particulares. Crivella deve essa satisfação ao povo. Foi-lhe dado o direito de exercer, e eleição é como um concurso público. Talvez ficássemos contentes com aquilo que os políticos nordestinos, mais do que outros, têm mania de falar: na liturgia do cargo, que vem a ser a conduta, a postura, o comportamento de alguém, intrínsecos ao posto ocupado. Qual é esse limite? Até onde um prefeito, no caso do Rio, pode abrir ou pode não abrir um evento tão importante para os cariocas?