Diálogo é uma palavra que é utilizada como sinônimo de entendimento, aproximação. Pode ser mesmo duplicado, quando temos quatro pessoas conversando. Assim, forma-se uma teia, cresce, multiplica. Mas nem sempre… Pode virar um desencontro, um coro desafinado de individualidades. Em dois textos de Julia Spadaccini, com direção de Alexandre Mello, “Até o final da noite” e “Um dia qualquer”, esse entremear resulta numa bela reflexão sobre como podem ser os relacionamentos.
Um casal, cujo filho vai trabalhar no exterior, recebe um jovem casal para um jantar. É nessa dinâmica que Angela Vieria e Isio Ghelman interpretam de forma magnífica o casal “adulto”, e Letícia Cannavale e Rogério Garcia, o casal jovem. Os quatro desenvolvem com muito humor os impasses das diferenças de gerações, objetivos, papéis. A técnica dramatúrgica faz com que a peça ganhe cada vez mais densidade, pois utiliza um jogo cênico de mostrar, sucessivamente, os episódios que acontecem ao mesmo tempo – o que evidencia o personagem isoladamente, em algum momento, e funciona como uma escada para o outro, para destacar não as diferenças, mas as similitudes.
Em “Um dia qualquer”, o encontro é totalmente fortuito. Anna Sant’Ana, Leandro Baumgratz, Rogério Garcia e Dida Camero representam personagens daquele tipo invisível, como a enfermeira, um palhaço de rua. Cada um fala por si, de seus pequenos ganhos, de suas enormes frustrações, mas o jogo aqui é de outra ordem: o texto, a modulação das vozes, mostra a que viemos.
As duas peças, aparentemente diversas, pois em “Até o final da noite” os personagens têm um encontro marcado e em “Um dia qualquer” é a força total do acaso, mostra que padecemos da aproximação física, do aconchego, do contato olho no olho, da possibilidade de termos um semelhante ao nosso lado. E que apenas com o diálogo podemos nos reencontrar conosco mesmos.
Serviço:
Até o final da noite
Teatro Leblon
Quintas a sábados às 21h30
Domingo às 20h
Um dia qualquer
Caixa Cultural Rio de Janeiro – Teatro de Arena
Quintas a Sábados às 19h