Evandro Mesquita, que continua sendo a mais perfeita tradução do carioca surfista e cheio de ginga, está lançando, com a Blitz, o novo álbum da banda. “Aventuras II” (Deck). O CD sai depois de shows por todo o Brasil, EUA, Portugal e Japão e dois anos de produção. Desde os anos 80, quando a banda estourou com a música “Você não soube me amar”, a Blitz nunca esteve tão Blitz, com uma mistura criativa e divertida de rock, pop, funk, reggae, samba e blues.
Neste CD, Evandro e companhia estão cheios de convidados, como Seu Jorge, Sandra de Sá, Zeca Pagodinho, Alice Caymmi, Andreas Kisser, Pretinho da Serrinha e MC Cert. Com 35 anos de estrada, o grupo está a toda, com letras sobre assuntos atuais (“Você é tão bonita/mas não fala comigo, só tuita/ Você é tão esquisita/ mas não fala comigo, só digita”, diz a letra de “Pode ser diferente”) e mais maduros, incluindo cobranças políticas por saúde e educação, mas sem perder a leveza característica da banda. A seguir, Evandro fala sobre o disco, um presente bacana e bem carioca de fim de ano.
O novo CD da Bliz,“Aventuras II”, tem algumas referências a brigas, desentendimentos de casais. O homem carioca ainda foge muito de uma DR (discussão de relacionamento)?
“Acho que até o primeiro round, atura-se… ”
A música “Pode ser Diferente” diz que “perdão não é coisa que se negue a ninguém”. Me parece que ali você está falando de um contexto maior do que em relação a um romance. Perdoar pra você está mais fácil?
“É um exercício constante de humildade e grandiosidade. Perdoa-se quase tudo. Menos político corrupto”.
É difícil conviver com a liberdade individual e a vida de casal?
“É importante haver cumplicidade, respeito sem anular o outro. Liberdade com responsabilidade”.
Pela primeira vez a Blitz fala abertamente contra os políticos, sobre a falta de saúde, transporte e educação, na faixa ‘Nu na ilha”. Qual é sua relação com a política?
“Cada vez mais a política está no papo do dia a dia, e até pouco tempo atrás havia uma radicalização dos lados, com todos querendo um país melhor… Mas partido político não é time de futebol, que se pode mudar… E agora as máscaras estão caindo e ninguém quer mais político ladrão, ninguém quer partido, queremos INTEIRO, o Brasil de volta”.
O que você percebe viajando por todo o Brasil?
“Percebo que estamos no fundo do poço e temos que varrer essa velha forma de fazer política com um discurso cansado, mofado e mentiroso. Percebo a saúde pública em estado de calamidade, a educação pública totalmente abandonada, as estradas e transportes públicos em péssimo estado. E a grana da corrupção altíssima. O Brasil não merece isso… triste país que precisa de heróis”.
A Blitz está se abrindo mais para o samba?A ideia do dueto com o Zeca Pagodinho, em “Fominha”, surgiu como?
“Desde o primeiro disco flertávamos com vários ritmos e o samba, sem dúvida, é um deles. Em encontros nos aeroportos com o Zeca, entre conversas sobre Moreira da Silva, arrisquei: ‘Zeca, posso te mandar uma música pra ver se você curte cantar com a gente?’ E ele respondeu:’Já curti, não precisa nem mandar’. Foi generoso e inesquecível”.
O carioca, na vida real, está tão estressado quanto nas redes sociais? Você faz o que para se desestressar?
“Sim! O carioca e o brasileiro de um modo geral. Da minha parte, nado, pedalo e toco”.
Como é ter um estúdio na sua própria casa? Você tem uma disciplina de trabalho com a Blitz?
“Maravilhoso! Redescobrimos o prazer de gravar e sem taxímetro. Diria que temos uma disciplina flexível…”
O que você espera que “Aventuras II” represente para os fãs da Blitz?
“Que estamos vivos… muito vivos e bem dispostos”.
O comportamento carioca anda mudando, em que rumo?
“Perdemos um pouco a intimidade com a cidade, com as esquinas, com os bares, com os cantos da praia e com as ruas. Perdemos nosso Coliseu, o Maracanã, nosso templo sagrado, que por estranhos interesses foi derrubado e virou um estadiozinho bonitinho e igual a todos lá de fora”.
numero: 11 O que você tem de mais carioca no seu jeito de ser?
“A Blitz, O Asdrúbal Trouxe o Trombone, os ensaios de escola de samba, a capoeira, o judô, o jiujitsu, o futebol de praia, o surf, o colégio André Maurois, os mariscos e os mergulhos do Arpoador, o Pier, o teatro Ipanema, o Circo Voador, os verões que não saem da cabeça”.