Nelson Rodrigues, ele mesmo personagem de sua escrita, pois carregou a tragédia na vida: assassinato do irmão, a filha cega, o filho preso político. Esse pernambucano, sem sotaque algum do Nordeste, mas repleto da prosódia carioca, construiu uma obra em que joga todas as misérias da alma, mas absolutamente todas, na Zona Norte do Rio. Essa é a matéria das crônicas de “A vida como ela é“, agora com oito histórias encenadas na estreia de “Os 100 Talentos – Cia. de Teatro”, fundada pelo diretor Cláudio Handrey.
São onze atores que desempenham desde o papel da jovem pura e casta, mas na verdade mentirosa e depravada, até os talentosos travestidos das tias e das mães castradoras. São os personagens recorrentes tratando dos temas que somos obrigados a enfrentar para viver o não viver: inveja, desejo, ódio, mentira, traição, amor que não se completa, filhos que odeiam pais, pais que odeiam filhos.
“As remontagens das peças e crônicas de Nelson Rodrigues mostram-nos o interesse constante por suas obras, as quais ainda nos revelam novas significações”. Seus temas são universais e, consequentemente, atuais. A visão rodriguiana do mundo já foi assimilada pela indústria cultural e, mais que isso, pela cultura brasileira: ela é um retrato da “alma brasileira”, afirma o diretor Cláudio Handrey .
Das mais de duas mil crônicas, curtas, contundentes, lidas de um só fôlego, Cláudio Handrey selecionou oito. Todas misturam o falso humor, cáustico na verdade, que já se anuncia a maior marca de Nelson: não existe rota de saída. Os personagens se perdem nos seus afetos. Mesmo que vivam, sobretudo quando realmente amam, é a morte. Não existe nenhuma possibilidade na vida como ela é…
(Fotos: Vinicius Barreto)
SERVIÇO
Teatro Serrador
Sexta, Sábado e Domingo às 19h30