Gisella Amaral, personagem carioca, sempre à frente de eventos beneficentes no Rio, casada com o empresário Ricardo Amaral desde sempre, descobriu um quinto câncer em sua vida. Na tentativa de um novo tratamento, foi parar num CTI por mais de 15 dias, de onde acabou de sair. No começo da próxima semana, vai a São Paulo, procurando, mais uma vez descobrir o câncer primário, já que os médicos só localizaram a metástase: um melanoma perto da axila.
Vai ser avaliado se seu organismo, ainda muito fragilizado, tem condições de resistir a uma cirurgia para a retirada do tumor. “Já passei por quatro cânceres de mama e consegui vencê-los. Vou sobreviver”, diz ela, com a voz frágil, mas firme. Não é a primeira vez que Gisella renasce: quando tinha 41 anos, sofreu uma queda de cavalo e acordou do coma sem reconhecer as pessoas, tendo que reaprender a falar. Sua energia, otimismo e fé são realmente incríveis.
Gisella, este é o quinto câncer que você está enfrentando. De onde vem tanta energia para essa positividade?
“Sempre achei que na vida temos de ser positivos em tudo. Tenho uma metástase, não descobriram o câncer primário, é desconhecido – mas sigo forte”.
O que tem de mais terrível nessa doença?
“De mais terrível é o paralelo que eu faço com as pessoas que passam o mesmo problema e não têm como se tratar pela precariedade da saúde no País. Eu, cercada de sete médicos, lembrava-me disso. Nem um segundo fiquei sozinha. Muitos doentes ficam sem apoio. É o que mais me preocupa.”
Você saiu do CTI depois de muitos dias, deixando até os médicos bem temerosos. Alguma passagem marcou mais?
“Uma passagem me marcou, sim. Teve um momento no hospital em que eu estava saindo da vida, e sei que isso seria a minha passagem. Cheguei a ver véus pretos flutuantes e, entre eles, um rosto muito tranquilo. Achei que fosse Nossa Senhora; me senti realmente flutuando. Percebi, nessa hora, que morrer não é ruim ou desesperador. Aí me deu uma reação e pensei: tenho 76 anos e muito o que fazer ainda. Estava desfalecida, sem energia pra falar. Num ímpeto de vida eu disse: ‘Não quero ir, não quero ir’, falei, surpreendendo meus filhos e minha nora. Não fui. Nessa hora desapareceram os véus, e eu estou aqui.”
O que você recomenda para manter a calma numa situação dessas?
“Nesse momento, é preciso lembrar que existe gente em pior situação, que você certamente está melhor do que muitos. Não devemos centralizar em nós mesmos o problema.”
Como é sua rotina?
“No meu coração, tenho uma obrigação, que é ajudar os outros e dar a mão – tenho essa missão. Sou formada em Enfermagem e Jornalismo – especializar-me mais, para servir melhor.”
Como é seu trabalho assistencial? Você costuma ir às empresas pedir ajuda para asilos, creches?
“A gente faz através de festas. Fiz o Arraiá da Providência por 12 anos. Faço eventos para a ABBR, também. Entre grandes e pequenas, atendo 39 instituições. Sou um SOS. Chegam a me dizer: ‘Estamos precisando isso ou aquilo.’”
O que você mais quer da vida agora?
“Quero ter amigos, ter pessoas queridas, curtir este momento da minha vida em tudo que eu puder.”