Único escultor hiper-realista que se tem conhecimento no país, o paulista Giovani Caramello já foi inevitavelmente chamado de “Ron Mueck brasileiro”, o australiano que levou, em 2014, mais de 220 mil pessoas ao MAM e é um dos artistas mundiais mais conhecidos do hiper-realismo, gênero que procura reproduzir pessoas e objetos como numa imagem em alta resolução. Assim como Muek, que iniciou a carreira fazendo fantoches e adereços para a TV e depois trabalhou com publicidade, Giovani não começou diretamente na escultura, mas na área da animação.
O que mais impressiona é o que conseguiu em pouquíssimo tempo de carreira: com 26 anos de idade, tem apenas dois anos que ele fez sua primeira individual, na sua cidade, Santo André, no ABC paulista. Hoje, um trabalho seu, feito com resina, cerâmica e silicone, custa de R$ 15 mil a R$ 30 mil.
Filho de contador e de uma empresária de confecção de uniformes escolares, com formação em artes plásticas, Giovani está com três obras inéditas no estande da OMA Galeria na ArtRio. “Acredito que a poética e o conceito são fundamentais e mais importantes do que somente as rugas e poros”, diz Caramello, uma das grandes atrações da ArtRio, que termina neste domingo (02/10), no Píer Mauá.
Vejas, nas imagens abaixo, algumas das esculturas incríveis de Caramello:
Como foi que você passou da confecção de modelagens em 3D para a escultura?
“Desde pequeno eu já tinha interesse em arte, porque eu via minha mãe trabalhando com pintura a óleo. Então, eu sempre gostei de desenhar. Quando me formei no colégio, fiz um curso de 3D e trabalhei por quase dois anos com animação. No caso, eu era modelador digital e fazia personagens para filmes e animações. Depois disso, conheci a escultura, com 19 anos, e acabei me apaixonando”.
O que te levou ao hiper-realismo? Qual a verdadeira influência de Ron Mueck no seu trabalho ?
“Sempre tive atração por arte realista, hiper-realista, principalmente na escultura. Então, foi um caminho natural pra mim. No início, me inspirei bastante no Ron Mueck, mas, hoje em dia, tenho outras referências, como Antony Gormley, Xooang Choi, Lucian Freud e Egon Schiele. São alguns que tenho admirado bastante, recentemente”.
E como aprendeu a técnica? Deve ser bem complexa…
“Sou autodidata. A parte básica da modelagem eu aprendi fazendo aulas com um escultor. O restante – moldes, retoques, trabalhar com resina, pintura das peças – fui aprendendo na internet, com livros e perguntando para outros artistas”.
Como foi a transição para a arte como profissão, viveu alguma fase de dificuldade financeira?
“Sacrifícios, financeiramente falando, nunca precisei fazer. Meus pais sempre me deram todo o apoio de que precisei, apesar de eu trabalhar desde os 18 anos”.
Os temas das suas obras são bastante introspectivos. Você se considera uma pessoa assim?
“Sim! Bastante, mas não me considero diferente. Gosto muito de assistir a filmes, ler livros, sair com amigos, apesar de a produção da minha arte tomar a maior parte do meu tempo”.
Qual, na sua opinião, é a função do artista na atualidade?
“Acho que a arte existe pra questionar, para ensinar, complementar, criticar. Cada artista utiliza sua arte de uma forma, com distintas finalidades. No meu caso, procuro desenvolver meu próprio autoconhecimento, produzindo e também tentando gerar autorreflexão em quem observa a obra”.
E que tipo de reflexão você pretende provocar, mais especificamente, nas pessoas? Acha que o hiper-realismo, por ser figurativo, é uma arte de mais fácil compreensão?
“Acho que sim, por ser uma arte figurativa, é mais fácil a identificação. Quanto à reflexão, depende muito da obra. Mas busco questionar a fragilidade da vida material, o autoconhecimento e a impermanência”.
Você está sendo representado numa das maiores feiras de arte do país, a ArtRio. O que acha de ter chegado a essa posição em tão pouco tempo de carreira?
“Acho incrível, é algo que agradeço diariamente. Tenho muita sorte! (rs)”.