As metáforas para definir a mulher brasileira negra vão desde Sardinha 88 passando por mulata bossa-nova até mãe preta. Todas elas, em todos os momentos, são para diminuir, desclassificar. E mesmo os chamados “elogios”acabam por reforçar uma situação de inferioridade. “Chica da Silva, o musical”, projeto de Alexandre Lino, reatualiza o mito e faz com que o problema bata à nossa porta.
Com direção de Gilberto Gawronski e texto de Renata Mizrahi, o elenco formado por Vilma Melo, no papel-título, Ana Paula Black, Antônio Carlos Feio, Luciana Victor e Tom Pires conta a mesma história – a situação da mulher negra, bonita, poderosa – em dois tempos históricos: na Minas Gerais do século XVIII e nos dias atuais. Com uma pegada das tradições brasileiras, as canções pontuam as contradições entre o aparente e o real.
“O Daniel Porto, parceiro meu em diversos trabalhos, fez uma extensa pesquisa histórica; depois a Renata Mizrahi fez um paralelo entre este ícone brasileiro e as batalhas das mulheres negras contemporâneas”, explica Lino. “Apesar dos inúmeros avanços que conquistamos desde o século XVIII, essas mulheres ainda encontram muita opressão tanto nos ambientes profissionais quanto em suas relações afetivas”.
Uma escrava que se torna amante do senhor, mas não pode circular. Uma empresária cuja sogra a destratou. Quase 300 anos se passaram. Novo ambiente do politicamente correto, da incorporação das diferenças, do propalado fim de todos os preconceitos. E o que se vê é exatamente o mesmo. Não se pode namorar, encontrar, ser visto. Os diferentes permanecem diferentes. Não se pode cruzar. Nem pelo mesmo caminho. Essa é a história da Chica da Silva, escrava. Essa é história de Chica Silva, empresária. Essa é a história que não muda.
Serviço:
Centro Cultural dos Correios
Quinta a domingo às 19h