Magra, insinuante, jeito jovem (parecendo hesitante, mas direto), figurinos ótimos, assim segue Marina Lima, com 40, 50 ou 60 – pode parecer incomum seis décadas naquele corpinho, mas é a realidade. A cantora comemora 61 anos este mês a toda, com a satisfação intacta, depois de ter conseguido de volta a voz rouca tão famosa no Brasil inteiro.
Marina passou por uma barbeiragem médica em suas cordas vocais, se curando de uma gripe forte. O que, certamente, contribuiu para uma depressão que durou dois anos – mas já é passado. Depois de um tempo meio quieta, Marina lançou o CD “No Osso”, em 2015, onde ela canta e toca violão. Em 2011, quando disse que iria morar em São Paulo, a cariocada não acreditou, mas ela foi, trocou a Lagoa por Higienópolis – foi lá que compôs todas as músicas de “Clímax”, lançado no mesmo ano.
Sempre aberta a todos os ritmos – Marina já gravou, inclusive, um axé da Timbalada, a música “Beija-Flor” – a artista tem o dom de deixar tudo com uma clima – como dizer? – moderno. Ela dá esse ar às coisas. Há algum tempo estudiosa da linguagem MIDI para teclados, a última paixão eletrônica da carioca é a banda Strobo, aliás, um duo, formado por Arthur Kunz e Léo Chermont, do Pará. Com os dois ela se apresenta sexta-feira (16/09), véspera do seu aniversário, na festa Pardieiro, no Cine Joia, em São Paulo. Vocês não acham muito bom ver Marina em plena criatividade, com toda a sua energia? Como ela mesma diz na entrevista abaixo: “Estou na ativa, feliz da vida”.
Foto: Paulo Mancini
Além desse show com o duo Strobo, com músicas suas e deles, está surgindo uma parceria dos três, existem outros planos para trabalhos juntos?
O que te atraiu mais nesse som? E o que você acha do tecnobrega, tão popular no Pará, terra da dupla?
“Me atraiu o fato de que, junto com um som eletrônico industrial que eles fazem, trazem também na bagagem um som brasileiro, como a guitarrada e o tecnobrega. É uma mistura fascinante.”
O show vai ser em São Paulo, na véspera do seu aniversário. A cidade está preenchendo em você o lugar que já foi do Rio? O que existe de mais bacana nos paulistas?
“O Rio é impreenchível. Sou carioca, com muito orgulho, nasci na casa de saúde São Sebastião, na Rua Bento Lisboa, no Catete. Mas São Paulo é a maior cidade da América do Sul, com todas as vantagens e desvantagens que isso carrega. E os paulistas recebem muito bem quem, como eu, escolhe essa cidade para morar. Sempre gostei de grande centros, aonde se encontra de tudo. O mar eu carrego comigo sempre, no meu nome e no coração. E vou passar o domingo, dia 18, aí no Rio com meus amigos mais próximos, numa feijoada que o Cao Albuquerque vai dar pra mim.”
Você passou por uma fase difícil, com problemas na voz. Seguiu, lutou, andou, se esforçou, se empenhou, se tratou de todo? Ainda faz algum tipo de tratamento? Em que ou quem vc se apoiou durante esse período?
“A fase com problemas na voz é superada. Lutei, me esforcei e me restabeleci. Estou na ativa, feliz da vida”.
Você já se disse insatisfeita com a carreira, o que virou depressão – dessa fase ficou algo que possa passar para alguém que esteja vivendo isso?
“A alguém na depressão aconselho procurar um médico, descobrir o que realmente quer da vida e ir à luta. Se a cabeça estiver forte e as coisas fizerem sentido, há cura para tudo.”
Na música “Partiu”, do seu último CD, você diz: “Uma vida inteira pra plantar e pra colher Luz”. Que Luz é essa?
“Eu sigo, há muitos anos já, a sabedoria da Cabala. A Luz é o que encontramos quando somos proativos, compreensivos com os outros, procurando dar o nosso melhor e compartilhando as coisas boas do caminho. A vida é uma eterna mudança: quando enfrentamos as adversidades com amor, compaixão e entusiasmo, encontramos e vivemos na Luz. Vencer obstáculos também traz muita Luz. Então até as dificuldades podem ser bem vindas…”
“Bem, Lu, vou fazer 61 anos daqui a alguns dias…61 anos bem vividos. Gosto da minha vida, do que aprendi até aqui e as escolhas que fiz. Sou uma mulher forte e curiosa, tenho saúde e disposição. Quero fazer muitas músicas bonitas ainda, encher esse mundo de coisas que valham a pena.” E o livro “Maneira de ser” em que pé ficou?
“O livro teve duas edições esgotadas, foi uma experiência incrível. Tenho vontade de fazer outro, mas preciso juntar mais histórias para contar. Escrevo sobre experiências, visões, conclusões que vou tirando da minha trajetória. Estou acumulando mais histórias para compartilhar.” Você é muito elogiada fisicamente – que mistérios estão por trás?
“Não tem mistério (rs), é ‘hard work’ mesmo! Alimentação regrada, exercícios físicos, Cabala. Minha alimentação é funcional, ou seja, leva açúcar mascavo, pouquíssima lactose, pouquíssimo glúten, muito legume e carne magra, salada e dois copos de vinho todos os dias. Fins de semana me permito comer pizza, chocolate… mas tudo bem menos do que gostaria. Exercícios físicos eu alterno entre Pilates, duas vezes por semana, e funcional com aeróbica, também duas vezes por semana. De sexta em diante, tiro folga (rsrs). E ainda amor, amigos queridos, música, poesia e uma curiosidade imensa pela vida.”