Nem aqueles que nunca estão plenos, para quem tudo é pouco, poderiam criticar o espetáculo elegante que foi a abertura do Rio 2016. Primeiro artista a participar, Paulinho da Viola cantando o Hino Nacional desarmou qualquer espírito. Logo de cara, essa foi a senha para o público esquecer tudo, os nossos muitos problemas foram redimensionados, mudaram de lugar dentro de cada um. A adrenalina baixou ao pé de todos, depois dos temores e possibilidades repercutidos nos últimos dias, com supostas ameaças disso ou daquilo – o Maracanã fez silêncio em muitos momentos, para não perder nem uma gota daquela emoção toda, fazendo até a gente esquecer as filas enormes para entrar no estádio e, junto a isso, outras coisas também, a Petrobras, o zika, a corrupção, o PT etc. Quando o gramado “virou mar”, os quase 80 mil espectadores entregaram os pontos, querendo gritar “gol” para a festa. Deu pra imaginar o que viria pela frente: nossos artistas, nossa música, a tolerância entre os povos (um sonho a virar realidade), até entrar Jorge Benjor com “País Tropical” – todo mundo sambou, alguns gringos também tentaram. Duro mesmo foi esperar a entrada das 206 delegações – foi tempo! Claro que essa demora é inevitável. Teve coisa pior: os inúmeros camarotes vazios no Maraca, muita gente louca para ir à festa, ver de perto, e, mesmo não vendendo pelos preços mais caros do mundo (comenta-se, cifras estratosféricas), por que não fizeram um sorteio entre parentes dos diretores do espetáculo, por que não distribuíram entre as famílias dos atletas, por que não deram a quem quer que seja? Tudo, menos deixar vazios, quando tantos brasileiros sonharam em estar ali naquela noite – até aqueles que não estão nem aí para Jogos Olímpicos, mas são atingidos, ou melhor, contagiados pela emoção vendida pela mídia. O presidente do COI, Thomas Bach, chamou o Rio de Cidade Maravilhosa, foi aplaudido – naquela hora estava maravilhosa mesmo, até para quem não acredita mais nisso ou já deixou de usar essa expressão há séculos – mas ficou a mostra de que pode voltar a ser. O presidente do COB Carlos Arthur Nuzman discursou antes de Michel Temer, o presidente, que falou logo depois, foi vaiado e aplaudido, vaiado e aplaudido. Nessa hora, entraram os fogos de artifício, só pode ter sido ideia de Eduardo Paes com a “Operação Abafa”, falada aqui. E veio a Gisele, num longo do Alexandre Herchcovitch, riscando o estádio de fora a fora; o Guga e veio Hortência e veio Vanderlei, ainda embalados por Gil e Caetano (participação de Anitta – ideia de Caetano) e veio escola de samba, e veio choro e esperança pra todo mundo. Pode dar, vai dando, é possível, vai dar certo, frases desencontradas eram ditas pelas pessoas. Fato é que nós, cariocas, vamos começar uma nova fase na vida, no dia seguinte ao fim dos Jogos Rio 2016. Não sabemos em que direção, mas vamos, levando uma certeza: passamos uma boa imagem!