A velhice hoje tem vários apelidos para tentar disfarçar que a idade traz o que mais tememos: a morte e o fim. Mas é possível se tentar ainda estabelecer um diálogo com a vida. Falar do passado em um lugar em que jamais esteve. Relembrar é imaginar, fabular. Pode parecer um absurdo querer escapar quando não se tem alternativa.
É disso em que se fala em “As Cadeiras”, de Ionesco, o gênio do teatro do absurdo, com direção estreante de Ney Latorraca. “As Cadeiras” trata de um casal de velhos, muito, mas muito velhos, representados por Tássia Camargo e Edi Botelho, que encenam que estão dando uma grande festa, reunindo figuras do mais alto escalão da política, da sociedade. O cenário simples, composto por duas cadeiras, e o figurino no qual os atores vão sobrepondo elementos exageradamente marcantes do passado mostram que o mundo está restrito àquilo que os personagens imaginam que seja a sua vida.
“Com mais de 50 anos de profissão, senti que chegou o momento certo de colocar nos palcos do nosso Brasil um clássico: ‘As Cadeiras’. Estou preparado e apaixonado pelo projeto por diversas razões. Acho que, nessa altura da minha vida, tenho o direito conquistado pelo respeito do público e reconhecimento da crítica para fazer esse trabalho. Ionesco é uma grife universal”, resume Ney Latorraca.
É assim que Ionesco trata seus personagens: são jogados numa situação-limite. Esse choque, ao primeiro momento, parece à plateia que o que se vê não tem qualquer contato com o real, com a vida cotidiana, com o humano. Começamos a murmurar: “Mas isso é um absurdo!”. Até que, com a evolução dos fatos, e no caso o excelente desempenho dos atores, vê-se que a corda vai arrebentar. E vai se romper no seu lado mais fraco: nós, a plateia.
Serviço
Teatro Candido Mendes
Sextas e sábados às 20h
Domingos às 19h