Ney Latorraca está se sentindo muito jovem: aos 52 anos de carreira, e às vésperas de completar 72 anos dia 25, o ator, que tem inúmeras novelas, 23 longas e 13 peças no currículo estreou, dia 8, como diretor de teatro, no Candido Mendes, em Ipanema. A peça escolhida foi “As cadeiras”, um clássico do teatro do absurdo, de Eugêne Ionesco, com Tássia Camargo e Edi Botelho.
Ney já dirigiu, por exemplo, o Prêmio da Música Brasileira que homenageou Luiz Gonzaga e o show “Passando Batom” de Jane di Castro, mas teatro é a primeira vez. “Me sinto como se eu estivesse começando. Quando você está em cena, fica protegido pelo personagem. Mas, estando de fora, como diretor, você não pode ‘entrar’ – eu sofro, sou muito tenso”, conta.
Até o fim do ano, começa a ensaiar “Vamp – o Musical” e participa da série “Brasil a bordo”, contracenando pela primeira vez com Miguel Falabella. Sempre com a auto-estima e o humor nas alturas – não há dúvidas de que o ator nascido em Santos é um leonino puro – Latorraca está ansioso para que cheguem logo as Olimpíadas. Enquanto muitos criticam, ele quer aproveitar ao máximo.
Por que dirigir uma peça do teatro do absurdo neste momento? Era uma vontade antiga, algo que faltava no seu currículo?
“Dirigir essa peça fazia parte, tudo vai andando, não tenho nada definitivo. Como o planeta tá vivendo um momento de confusão, colocar um clássico no teatro é muito importante. O teatro é muito louco – é o máximo ver duas pessoas ali, contando uma história”.
Depois dos sustos que você teve com sua saúde (em 2012, o ator ficou 47 dias internado com uma colangite obstrutiva; ano passado, fez uma cirurgia de hérnia umbilical) ficou com alguma fobia de hospital?
“Sou igual a Elizabeth Taylor, estou sempre com problemas, quem fala isso é o Falabella. É do meu temperamento, jogo tudo pro estômago. Agora estou me cuidando melhor, parei de fumar, ando na Lagoa todo dia. Cuidando da máquina”.
A vida mudou de valor?
“Claro que a vida mudou de valor. Agora eu estou no lucro, descobri que tudo é uma grande bobagem. Quando as pessoas me falam que rezaram pra mim, que fizeram novena, me emocionam. Os médicos da São José são maravilhosos, carinhosos mesmo. Quando a fisioterapeuta Ana Paula, uma das que cuidaram de mim, chegou na igreja para o seu casamento, eu já estava na porta”.
Você parece ser uma pessoa que gosta de agitação. Nesse sentido, está otimista com as Olimpíadas, com o fato das atenções mundiais se voltarem para o Rio?
“Estou otimista, sim, é importante, é bonito, é saudável. Barcelona depois das Olimpíadas mudou completamente. Aqui vai acontecer a mesma coisa, vai ficar mais exuberante ainda. Os pessimistas deviam se mudar de cidade, ir embora do Rio. Imagina a loucura que vai ser, com a nossa energia?”
Como andam os preparativos para ‘Vamp – o Musical’?
“Só devem começar (os ensaios) no fim do ano. Agora só penso nas Olimpíadas e na minha peça. Sextas e sábados, oito da noite”.
Além do Vlad na novela ‘Vamp’, você fez o Nosferatu em ‘O beijo do vampiro’. O que acha quando comparam o presidente em exercício Michel Temer ao conde Drácula?
“Comparar o Temer com o Drácula é democrático, a democracia grita, ela é exuberante. Quanto ao novo Governo, quero que a coisa volte a funcionar. O país já está começando a andar”.
Em “Brasil a bordo”, nova série do Miguel Falabella sobre uma companhia aérea à beira da falência (estreia prevista para outubro), qual vai ser o seu papel?
“O meu papel é segredo, é uma comédia. Pela primeira vez vou contracenar com o Miguel, que já me dirigiu duas vezes”.
Você acha que o Ney Latorraca de agora é a sua melhor versão? Tem alguma coisa na sua vida que precisa mudar?
“O Ney Latorraca está maravilhoso, está tinindo, já virou uma marca. Me imitam. Como me disse o Chico Buarque, ‘quando vira piada de banheiro é consagração’. Quero mudar, sim, quero deixar de ser pontual, sou aquele que chega um dia antes. Os pontuais sofrem. Pra você ter uma ideia, chego horas antes quando vou embarcar – aí, claro, meus aviões sempre atrasam. Minha pontualidade é tanta que em Roma, um dia, já me fez perder um jantar do Bertolucci, para nada. O avião teve problemas e tive que dormir no hotel do aeroporto”.