Desde pequena, pergunto-me qual é a relação do coelho com os ovos de Páscoa. Em antigas culturas espalhadas pelo Mediterrâneo, pelo Leste Europeu e pelo Oriente, já era algo bastante comum presentear com um ovo. E, normalmente, coincidia com a chegada da primavera. Não por acaso, vários deles eram pintados com alguma decoração floral – tradição que ainda se repete até hoje em alguns países.
Atravessando a Antiguidade, esse costume ainda se manteve vivo entre as populações pagãs que habitavam a Europa durante a Idade Média.
Na China, também existia o hábito de presentear com ovos de pata (a fêmea do pato), pintados, como celebração à vida, mas não eram para o consumo.
Já o rei da Inglaterra, Eduardo I passou então a presentear a realeza com ovos banhados a ouro e decorados com pedras preciosas.
E, até que chegássemos aos deliciosos – e bem mais baratos, apesar dos exorbitantes preços atuais – ovos de chocolate, foi necessário o desenvolvimento da culinária* e, antes disso, a descoberta do continente americano (i.e., do cacau).
Ok, mas qual é mesmo a razão dos ovos de Páscoa? “Elementar, meu caro Watson”: o ovo simboliza a vida pela sua própria característica vitalícia, isto é, pelo fato de que, dentro de uma casquinha tão frágil, existe vida. O ovo é símbolo da ressurreição de Cristo, por isso é tão protagonista.
O termo Páscoa tem origem no hebraico (Pessach), que significa passagem. Moisés abre o mar Vermelho, com o seu cajado, tornando possível a passagem dos hebreus para o lado da Terra prometida e, assim, a Páscoa ganha o sentido de libertação, o nascimento da liberdade do povo judeu, que não era aceita pelo faraó do Egito.
Tudo mais ou menos explicadinho. Mas e o coelhinho? O que pinta nessa história toda?!
Bom, na Antiguidade, os povos escolheram a lua para determinar a data da Páscoa, e o coelho simbolizava a lua, passando também a ser considerado um símbolo da Páscoa. Além disso, são mamíferos roedores, que se reproduzem de forma rápida, dotados de grande fertilidade, o que os torna fortes representantes da preservação da espécie.
Ele também simboliza a Igreja e a sua missão ardorosa de propagar os ensinamentos cristãos e a palavra de Deus, aumentando a sua quantidade de discípulos na mesma proporção da fertilidade do famoso coelho. Porém o coelhinho não para por aí não. Existe uma lenda que marca a história do coelho: uma mulher que não tinha dinheiro para presentear seus filhos cozinha os ovos, pinta-os e o os esconde no quintal de casa. E, quando as crianças encontram os ovos no quintal, aparece um coelho por perto, e elas acreditam que o nosso conhecido roedor de orelhas grandes havia colocado os ovos de Páscoa para elas. A lenda se espalhou, e o costume de esconder ovos também.
Depois te tanta explicação, merecemos nosso ovo de chocolate, não?
* Duzentos anos depois da descoberta do continente americano, os culinaristas franceses tiveram a ideia de fabricar os primeiros ovos de chocolate.