Todos nós temos um objeto de desejo. Uma bola, um vestido, um carro, um livro. Alguma coisa que nos coloque no mundo, que nos faça felizes pelo simples ato de possuir. Essa é a base do conto “O Capote”, de Nikolai Gógol, que, com reescritura de Drauzio Varella e do dramaturgo Cássio Pires se transformou no espetáculo que comemora os 35 anos de carreira de Rodolfo Vaz.
A peça, com direção de Yara de Novaes, conta com os atores Rodrigo Fregnan e Marcelo Villas Boas, a musicista Sarah Assis e projeções criadas pelo videoartista Rogério Velloso, em uma encenação que transforma o drama de Akaki Akakievitch, um pobre e medíocre funcionário, passado no começo do século 19, em um conflito totalmente atual.
“Como Gógol ironiza, na própria linguagem dele, o procedimento da escrita, gera em nós uma necessidade de criarmos os nossos próprios procedimentos. É como se Gógol nos libertasse para isso”, conta Yara sobre o processo de direção de ‘O Capote'”.
O frio insuportável aliado a um posicionamento social dado pela capacidade de se combater esse frio com uma peça de vestuário é mais do que uma metáfora da crueldade de uma sociedade rigidamente classista. É a permanente prova que a exclusão é cruel, avassaladora. Invade a alma como um vento gélido que nos corta. E essa sociedade injusta se transforma num iceberg no qual ficamos todos congelados, e que nenhum capote é capaz de nos proteger.
Serviço:
CCBB
Quarta a domingo às 19h