Conhecido como “o embaixador da música eletrônica no Brasil”, Claudio da Rocha Miranda Filho é comparado a grandes nomes nesse setor. Ele é, sem dúvida, um dos responsáveis por colocar o Brasil em destaque na cena eletrônica mundial, uma indústria que movimenta cerca de R$ 3 bilhões no país por ano. Há 18 anos como empresário e produtor de eventos, Claudio é fundador e CEO da produtora MM Live. Já produziu mais de 500 shows e festivais independentes como o Chemical Music Festival, o XXXperience RJ e o Neon Future Festival – além de ser sócio da boate 00, na Gávea, que hoje também tem uma unidade em São Paulo.
Seu grande objetivo para 2016 é trazer, pela primeira vez para o Rio, em outubro, o Ultra Music Festival, maior festival de música eletrônica do mundo, que existe em 18 países – deve reunir 80 mil pessoas. O local ainda está sendo definido com a Prefeitura carioca, que vê o evento como fundamental no planejamento da agenda da cidade pós-Olimpíadas.
O que diferencia o Ultra Music Festival de outros festivais de música eletrônica no mundo? Ele tem uma cara própria?
“O Ultra é um festival cosmopolita, nada de sítios ou fazendas. Estar no Ultra é uma experiência – acima de tudo – tecnológica, onde a atração principal é realmente a música de pista e as pessoas, de fato, vão pra dançar. Particularmente, acho o palco principal o mais imponente e impressionante de todos que já pude conhecer. Hoje, com presença em 21 cidades e 19 países, o Ultra é o maior festival de música eletrônica do planeta”.
Você acredita que o Ultra possa ajudar a manter a economia do Rio em alta no pós-Olimpíadas? Existe uma previsão numérica de público estrangeiro que acompanha esse festival?
“Segundo pesquisa recente da Nielsen para o mercado de shows e festivais nos Estados Unidos, o fã de música eletrônica é o que mais viaja, se comparado com outros segmentos. O Rio é um destino turístico mundial, cuja rede hoteleira foi ampliada e suas tarifas encontram-se com ótimos preços. As experiências da Copa do Mundo e, pelo que tudo indica, das Olimpíadas, favorecerão ainda mais essa tendência. Nossa previsão é que mais de 50% do público venham de fora da cidade, gerando uma arrecadação superior a R$ 60 milhões na economia local. Ninguém vem ao Rio e volta rápido, a cidade é a mais agradável do mundo! As pessoas virão ao Ultra e visitarão nossas praias, restaurantes e comércio”.
Como foi sua entrada no mundo da EDM (Electronic Dance Music)? Foi por acaso ou realmente algo mais te motivou a entrar nesse segmento?
“No início dos anos 2000, eu organizava festas na Ilha da Mandala, em Angra dos Reis, e recebíamos muita gente de São Paulo. Naquela época, já pipocava uma cena de clubs considerável e uma crescente e forte cena rave. Assim, como a grande maioria dos brasileiros da minha geração, conheci a cultura rave, comecei a produzir a XXXperience e a Bunker Rave aqui no Rio, em 2002; em 2005, criamos o Chemical Music Festival e nunca mais parei…”
Ainda persiste a visão de que a festa eletrônica é sempre uma rave, com frequentadores tomando drogas sintéticas por horas seguidas? Se afirmativo, esse preconceito é observado mais em que setores da sociedade?
“Honestamente, não percebo e nem acredito mais nisso. A cultura dance é global, está no cinema, na propaganda, na moda, os eventos movimentam economias inteiras de países, geram impostos, empregos, turismo. A música eletrônica é a principal difusora da música, é inclusiva. A figura do DJ se tornou um ícone dos ‘millennials’ (nota do site: a chamada geração Y, os nascidos depois de 1980 até meados de 1990), independentemente do gênero, que pode ser da bossa nova ao rock’n roll. Aquela visão da rave, do escapismo, drogas e loucura, ficou no passado e, se foi um dia assim, não é mais. Hoje os festivais são verdadeiros parques de diversões, com infraestrutura total, todos os tipos de serviço e segurança e alguns até mesmo se propõe a educar”.
Como é o perfil do público de música eletrônica no Rio? Ele tem uma identidade fashion como os metaleiros, que se vestem sempre de preto etc.?
“A música eletrônica tem subgêneros que não acabam mais, o que não significa que no Rio tenhamos a presença de muitas destas cenas mais alternativas. A mais ‘mainstream’ delas, que consome a música das rádios, novelas, nos clipes do David Guetta e Calvin Harris, está em todo o lugar e, seu público no Rio, nas praias, nas academias, na faculdade. É ‘gente como a gente’, é quem gosta de dançar, é pop!”
Como é o relacionamento com os DJs internacionais, eles exigem tratamento de estrelas?
“Alguns sim, outros menos, mas entre os super DJs a tendência é que tenham mais e mais caprichos e demandas de rider (nota do site: listagem de exigências técnicas dos artistas), hotéis, carros e por aí vai. A novidade é que não são mais apenas os internacionais, o Brasil vive um excelente momento, com um mercado estabelecido e muitos dos nossos talentos nacionais também viraram estrelas”.
O que você escuta quando não está ouvindo música eletrônica?
“Meu gosto é eclético, gosto de MPB, bossa nova, Caetano, Cassia Eller …Gosto de Fleetwood Mac, Roxette, Guns & Roses, do novo pop como Adele, Carl Rose Sonenclar…