Há 29 anos, o índio Ailton Krenak pintou o rosto de preto, com tinta de jenipapo, no plenário do Congresso, conseguindo reverter com esse gesto de protesto as políticas anti-indígenas que estavam prestes a ser aprovadas na Assembleia Nacional Constituinte. Nesta quinta-feira (18/02), Ailton, que se tornou uma das maiores lideranças do movimento indígena do país, recebe, da Universidade Federal de Juiz de Fora, o título de professor Honoris Causa.
O índio nascido em Minas Gerais, que é ambientalista, escritor e coordenador da Rede Povos da Floresta, coordena, desde 2014, o curso de especialização “Cultura e História dos Povos Indígenas” e a disciplina ”Artes e ofícios dos saberes tradicionais”.
Perguntado sobre o que muda na sua vida com esse título de “homem branco”, Ailton respondeu: “Pessoalmente nada, mas sou um sujeito coletivo, engajado em lutas de descolonização das ideias que discriminam os povos nativos …e isso conta pra mim!”
Ailton, que foi, durante o governo Aécio Neves, em Minas, assessor especial para assuntos indígenas, está envolvido num projeto para unir índios das três Américas. No Memorial Indígena, em Brasília, a partir do fim do mês, ele quer reunir intelectuais das várias tradições maia, tolteca, kuna, asteca e zapto, para debaterem a defesa da cultura indígena diante da violência da sociedade de consumo, “que ameaça as últimas fronteiras naturais do continente, pondo em risco a vida dos povos nativos, suas práticas e ritos”, diz.
Abaixo, um trecho do filme “Índio Cidadão?”, com o protesto de Krenak feito no dia 4 de setembro de 1987 no Congresso: