A apresentadora, atriz, escritora, dramaturga e roteirista de TV e cinema Fernanda Maria Young de Carvalho Machado, mais conhecida como Fernanda Young, tem o poder de unir os extremos e tornar o contraditório natural. Ela é católica e hinduísta, livre e casada com o publicitário e escritor Alexandre Machado, com quem divide a autoria das séries de TV que escreveu ( “Os Normais”, “Minha nada mole vida”, “O Sistema”, “Separação”, “Macho Man”, “Como Aproveitar o Fim do Mundo”, “O Dentista Mascarado”, “Surtadas na Yoga” e “Odeio Segundas” – esta última em exibição no GNT). Também começou a frequentar duas faculdades (Letras e Jornalismo) e não terminou por achar tudo chatíssimo – mas não é isso o que deseja para a educação dos filhos, mãe dedicada que é das gêmeas Cecília Madonna e Estela May, de 14 anos, e de Catarina Lakshimi, de sete anos, e John Gopala, de seis. Sempre muito autêntica, fala quase tudo o que pensa – e uma dessas coisas é dizer que não sente saudades da infância, quando sofreu por ter uma depressão não diagnosticada.
Já escreveu 11 livros e vai lançar, em 2016, “O piano está aberto” e mais o livro de poesias “A Mão Esquerda de Vênus”. Fernanda ainda tem mais de 20 tatuagens pelo seu bonito corpo, que ela cuida com musculação e balé e mostrou nu na Playboy, num ensaio em 2009. Por sinal, Fernanda não só não se arrependeu de ter posado aos 39 anos, como está disposta a repetir a experiência.
Depois de ter publicado “Dor do amor romântico” você chegou a dizer que seria seu primeiro e único livro de poesia. O que mudou para lançar, agora, “A mão esquerda de Vênus”?
“Eu sempre escrevi poesia, mas a minha estrutura principal é o romance. Escrever poesia é um meio de sobreviver ao mal-estar, à dor, ou algo que prefiro evitar de sentir. É também um trabalho complexo, porque um poema ruim é uma afronta. Esse livro surgiu por causa de inúmeros pedidos de leitores, pessoas que amam o “Dores”. Também por causa dos meus desenhos, que vão ilustrar o livro. Sempre desenhei, mas isso é um lado meu que meus leitores não conhecem. Também há pedidos sobre expor esses trabalhos. Tenho muito carinho pelo meu público. Com as mídias sociais, eu tenho acesso a eles, e sou grata por isso. “A Mão Esquerda de Vênus” é sobre o amor – meu assunto predileto, senão único. Sobre o desamor, sobre traição, sobre o desespero, esperança, desculpas, culpas. Muito intenso. Por isso são apenas 29 poemas. Esses poemas foram escritos durante cinco anos, mais ou menos. Acho que melhorei muito como poeta. Cada verso tem uma precisão estudada, os silêncios, tudo é importante, e foi muito trabalhado”.
Achei que não faria mais um livro de poesia, porque sinto-me exposta demais. É mais assustador do que ficar nua. Mas sou corajosa, mesmo que tímida.
Você tem alguma ressentimento da crítica acadêmica? Acha que por ser, também, uma roteirista de TV sua literatura não é considerada como deveria?
“Ressentimento é uma palavra forte demais. Mas reconheço que isso ocorre. Creio que o fato de eu fazer muitas coisas confunda. Mas isso é uma questão nacional. Brasileiro não gosta de gente que se expande. Há também a questão da inveja. Como dizia Tom Jobim, aqui o sucesso causa inveja. Também creio que não pareço uma intelectual, não me comporto como deveria, talvez … Não reverencio ninguém. Sou livre. Isso incomoda. Mas tenho meus leitores, isso que importa. Minha literatura sobreviverá a mim, e aos que implicam comigo”.
O que mais está irritando Fernanda Young no momento?
“A cafonice. Nunca vi nada igual. Cafonice gera dinheiro. Então todos parecem ter sucumbido a ela. Mas a cafonice é perigosa, faz a pessoa não refletir. Um povo que não se indaga, que não entra em contato com a dor, não amadurece. Estamos infantilizados”.
Com um jeito tão racional, você tem alguma fé religiosa, um lado mais místico?
“Sim, sou católica e há muitos anos me dedico ao hinduísmo. Cuidar do espírito me ajuda a lidar com a loucura”.
Como é a sua relação com a beleza física? Você já fez botox, preenchimentos, cirurgias plásticas?
“Fiz os seios depois que amamentei, coloco botox uma vez por ano na testa, mas bem leve. Não pretendo fazer nada. Acho super esquisito”.
A série “Odeio Segundas” se passa num ambiente corporativo. Onde você e o Alexandre Machado, seu marido, buscam inspiração para escrever os textos? Pelo que sabemos, nenhum dos dois trabalhou em escritório…?
“Alexandre trabalhou em agências de publicidade. E eu vou a muitas reuniões. Sou muito rápida para apreender as situações cômicas, sou boa observadora. Eu tenho um olhar de cima, sabe? Coisa de escritor”.
Você e o Alexandre têm uma rotina de trabalho? Seu escritório é dentro da própria casa? Como é o seu dia a dia de mãe e escritora?
“Meu estúdio é ao lado de casa. Não trabalhamos fisicamente juntos, temos horários diferentes. Alexandre é bem mais organizado, mas o meu caos que dá o tom. Como toda mãe que é atarefada, sinto-me culpada às vezes sobre as crianças. Mas culpa é algo burro, então tento ser honesta, assumindo que essa sou eu: uma mãe que faz muitas coisas, e inclusive gosta de ficar sozinha. Amo ficar sozinha. Me divirto muito comigo”.
A adoção de Catarina Lakshimi e do John Gopala foi um processo muito demorado? O que levou você a querer adotar dois filhos?
“Quase um ano, no caso da Catarina. O John não foi programado, e isso nos custou muito tempo de insegurança. Não agimos de má fé. Ele ‘nasceu’ para a gente, quando eu tinha acabado de sair da fila de espera. As leis sobre o assunto são muito insensatas. Num país em que crianças são abandonadas, creio que deveria ter uma avaliação mais humana, e menos técnica, sobre a adoção. Eu sempre quis ter uma filha por adoção. Fiz muitos tratamentos, perdi um bebê com alguns meses de gestação, e então vimos que havia chegado a hora. E tivemos Catarina”.
Você e o Alexandre sempre sacaneiam quem faz swing nas séries da dupla. O que você realmente acha de quem faz swing?
“Eu acho engraçadíssimo. Eu iria morrer de rir. Transar já é algo meio risível, imagina ficar vendo um bando de gente se esfregando, fazendo caras e bocas, eu iria cair na risada”.
Você se arrependeu de ter posado nua para a Playboy? Posaria de novo?
“Não me arrependi. A nudez sempre fará parte do meu trabalho. Acho uma comunicação estética e política”.