Patricia Cotton é uma carioca que aprendeu a amar a cidade saindo dela. Ao longo da vida, aprendeu também que ir para longe revela o que está perto, e que o caminho também é um lugar. Patricia é fera em transformação de negócios e liderança criativa e fundou o Upside Down Thinking, movimento que ajuda organizações e indivíduos a transformar novas ideias e conhecimento intuitivo em realidade. Acredita cada vez menos em CVs e mais em estabelecer relações profundas e criativas com pessoas e negócios, ideias que vai tratar num curso, na Laje, no dia 21/01.
Formada em comunicação social pela PUC-RJ, cursou MBA em marketing na ESPM-RJ e MBA executivo global com módulos na China, Japão, EUA e Alemanha pela Berlin School of Creative Leadership. Recentemente, participou de um curso imersivo de introdução à Teoria-U, promovido pelo Presencing Institute UK, e uma jornada de aprendizagem na Team Academy/Finlândia, uma das escolas mais inovadoras do mundo em empreendedorismo. Trabalha e mora entre Rio e Berlim, onde dá um curso atrás do outro em escolas de negócios & criatividade e empresas, além de atuar como consultora e mentora.
Quais são as principais barreiras e obstáculos para a transformação de pessoas e negócios?
“Em primeiro lugar, a negação de que a mudança pode e deve ser feita, que, geralmente, se ampara em crenças sabotadoras como ‘nunca farei isso’, ‘isso jamais será possível’, ‘isso sempre foi e será assim’ e por aí vai. Uma vez que se identificam os pontos cegos que nos impedem de evoluir, bem como as possibilidades de caminhos a serem seguidos, é preciso ter coragem e planejamento, além de disciplina, que é basicamente o zelo pela intenção inicial. Pelo que observo, é bem comum que as vozes do medo, julgamento e cinismo atropelem esse processo de reflexão e ação, o que acaba sendo a principal barreira para que a transformação ocorra”.
Pensar ao contrário pode ser útil? Como?
“Extremamente útil e libertador! Geralmente, somos reativos e acessamos soluções óbvias, que limitam bastante as nossas possibilidades. Pensar o contrário pode expandir a criatividade e fazer com que algumas ‘vacas sagradas’ não pareçam mais tão sagradas assim. Um exemplo disso é a maior falácia que tenho ouvido ultimamente, a desculpa ‘estou sem tempo’. Fico me perguntando por que aceitamos e até achamos nobre, de certa forma, estarmos sempre tão ocupados e anestesiados pelo excesso de distrações? Pensar o contrário, neste caso, seria perceber que tempo é algo extremamente democrático, já que a semana tem 168 horas para todos. O que fazemos com o tempo é questão de prioridade e foco, portanto, nossa inteira responsabilidade”.
O sucesso pode ser perigoso? Pode viciar? Pode o que mais?
“O sucesso pode ser uma catástrofe, como o Tennesse Williams bem pontuou. Muitas vezes o crescimento de um negócio, por exemplo, torna o empreendedor mais infeliz na mesma medida em que ganha mais mercado, status e dinheiro, já que fica sem tempo para fazer o que realmente gosta e muitas vezes precisa se tornar avesso a risco. Acho que é preciso muito desprendimento para não se apegar ou perseguir o sucesso obsessivamente, mas isso, certamente, compensa. O fracasso sempre me ensinou muito mais, por exemplo. Então pensando o contrário, acho que sucesso é saber lidar bem com o fracasso”.
O que você gostaria de transformar no momento?
“Pessoalmente, quero ser menos refém da minha inquietude e ter mais abertura para aceitar o que está acontecendo em detrimento do que planejei. Numa outra instância, quero contribuir de forma ativa e profunda na transformação autêntica e equilibrada de indivíduos e organizações para que criemos coletivamente uma sociedade mais justa, criativa e inclusiva. Acho esse papo meio cliché, aliás, mas é sinceramente o que busco”.
Pode falar sobre a ideia de fundar o Upside Down Thinking?
“O Upside Down Thinking nasceu de forma invertida, na medida em que me conscientizei do que eu não queria mais. Trabalhei durante 10 anos como executiva de MKT em grandes empresas e, depois de uma espécie de auditoria existencial num sabático, percebi que acabei me distanciando das coisas que me eram mais caras, como aprender e compartilhar conhecimento de forma profunda, viajar e ter autonomia em relação ao meu tempo, o que considero o principal fio condutor da mudança. Nunca havia me imaginado como empreendedora, mas felizmente a vida tem vida própria e costuma ser bem mais interessante do que os nossos limitados planos”.