Isabel Kutner de Souza, Bel Kutner para as artes, estreou, nesse sábado (21/11), a peça “Hilda e Freud”, na Cidade das Artes, na Barra. A atriz interpreta na peça escrita e dirigida por Antonio Quinet, com codireção de Regina Miranda, a poetisa Hilda Doolittle, mais exatamente o momento em que a inglesa, com um bloqueio literário, resolveu procurar o psicanalista mais falado do mundo, Sigmund Freud, em Viena.
Bel conhece o que é estar num divã desde a infância: aos sete anos, seus pais, os atores Dina Sfat e Paulo José, a levaram para fazer terapia – “era moda na época”, conta. Mas não faz o tipo torturada – muito pelo contrário, apesar de não se dizer otimista, Bel é bem alto-astral. E ela já passou e ainda passa por fases difíceis na vida, como a morte da mãe aos 18 anos, o mal de Parkinson do pai, e o autismo do filho, Davi. Cada um com seu pacote!
“Tento agir como se eu fosse a pessoa mais bem-sucedida e incrível do universo”, diz. E é se comportando assim que ela tem no currículo mais de 20 espetáculos teatrais, duas direções e várias novelas e minisséries na TV, como “Anjo Mau”, “Começar de Novo”, “A Favorita”, “O Astro”, “Amor à Vida” , “Escrito nas Estrelas” e“Verdades Secretas” – esse, seu mais recente trabalho, quando interpretou a professora Darlene na polêmica obra de Walcyr Carrasco.
Depois de dois casamentos, a atriz está, há quatro anos, “casada” com Pedro de Lamare, empresário da área de gastronomia (dono da rede de restaurantes Gula Gula), mas no esquema “cada um na sua casa”. Bonita como a mãe, Bel é direta e intensa. Diz que está alucinada com a personagem Hilda: “Era uma mulher muito sensível, que passou por coisas tenebrosas e buscou sua salvação na arte, na poesia e na psicanálise, enquanto o mundo se deteriorava pelas guerras. Foi transformada num ícone do universo feminista por assumir sua veia artística e sua bissexualidade. Uma guerreira que sobreviveu através de sua arte e sua história”.
A personagem Hilda ajudou, de alguma maneira, você a repensar sua relação com a análise? Pelo que sabemos, você foi levada a fazer terapia aos sete anos de idade, mais como um modismo dos anos 70. Aliás, continua fazendo análise?
“Claro que o tema voltou forte! Não estou em análise com ninguém no momento, mas pensei em voltar correndo!”
Hilda Doolitle é descrita como uma mulher à frente do seu tempo, que vivia livremente sua bissexualidade, sem remorsos. Na sua opinião, por que ela procurou a psicanálise?
“Hilda já estava com mais de 40 anos, casada com a Bryher, escritora como ela, com quem criava sua filha. Foi procurar Freud por estar com um bloqueio da escrita. Viajou até Viena e, durante meses, fez análise com ele. Depois disso, seguiram se correspondendo até a morte do professor”.
A poetisa Hilda passou pelas duas Guerras Mundiais durante sua vida e buscou apoio na arte. Os ataques terroristas na França conseguem afetar seu astral? Você continua sendo otimista?
“Sim. As guerras são sempre traumatizantes e ela sofreu muitas perdas. Hoje, vivemos num mundo com mais de 100 conflitos, onde o foco vai mudando de acordo com os acontecimentos, mas não dá nem pra ter a ilusão de PAZ, não com tanto horror. Eu nunca fui otimista, sou alegre, é da minha natureza, mas não sou nem um pouco romântica quanto à humanidade”.
A história contada sobre a doença da sua mãe é de que ela teria abandonado a medicina e tratado o câncer com terapias alternativas (Dina Sfat se tratou com o paranormal Thomas Green Morton). Isso te levou a descrer dos tratamentos fora do convencional? Você é mística?
“Minha mãe teve câncer de mama nos anos 80, era tudo muito diferente nos exames e tratamentos. Quando descobriu já havia metástase. Ela buscou alternativas, mas fez quimio, cirurgia etc. Fez o possível. Não dá pra saber se ajudou ou não, são as escolhas. Eu sempre fiz tratamentos não convencionais, acupuntura, Heiki, mas não deixo de ir ao clínico geral, fazer os preventivos todos. Não é uma questão de fé. Quanto ao lado místico, sou descendente de Sfat. Dá pra não ser mística?”
Vocé é uma atriz que não costuma ser alvo de paparazzi. Acha que isso depende muito do comportamento do artista? Prefere levar uma vida mais discreta?
“O que é ser discreta? Minha vida não é alvo porque não sou personalidade, sou atriz. Conheço quase todo mundo da imprensa, temos respeito mútuo e, claro, nunca me envolvi em escândalos, tenho uma rotina bem comum de dona de casa, mãe. Isso não dá assunto: o povo quer sangue! Drama! Sexo! Eu prefiro comida, cachorros….”
Continua adepta do casamento do tipo cada um morando na sua casa?
“SIIIIIM!!!
Tendo um marido sócio de restaurante, como é sua alimentação? Ou sua genética é mesmo privilegiada?
“Obrigada pela ‘genética privilegiada’! Sim, com o Pedro, fazer dieta é difícil. Mas como gosto de tudo, vou administrando. Com 45 anos, sem uma rotina de ginástica, posso me sentir privilegiada, não só pela genética, mas por muitos anos de esportes, circo, artes marciais, dança… Sempre fui ativa. O corpo tem memória. Só gostaria de poder comer e não engordar.