Quando escrevi aqui em janeiro sobre o atentado na sede do jornal “Charlie Hebdo“, eu não poderia nunca imaginar que falaria de outro atentado no mesmo ano em Paris. É muito estranho tudo isso. Depois dos primeiros momentos, do estado de choque, da profunda tristeza de ver o sofrimento das vítimas durante o acontecido, e de ver o desespero das famílias e amigos, a gente começa a se dar conta de que, desta vez, foi muito próximo de nós, e de maneira mais covarde que a anterior.
Não vou entrar em detalhes porque vocês acompanham tudo pela televisão no Brasil, que tem feito uma ótima cobertura.
Algumas pessoas me perguntam como está nosso estado de espírito. Nós, que moramos em Paris e frequentamos vários dos lugares que foram atacados, sentimos uma insegurança que tomou conta da cidade – as pessoas com semblante sério, ar triste de desolação. Dentro dos metrôs, quando se ouve um barulho diferente, todo mundo fica assustado, e várias vezes o metrô tem que ser parado durante o trajeto por problemas de objetos deixados e abandonados nas estações.
Um outro exemplo: ontem foi a abertura da “Saison de Ballet“, da Ópera de Paris, com a apresentação do “Ballet La Bayadère” na Ópera Bastille. As portas principais foram trancadas; o público entrou pela lateral do prédio. Na saída, quando estávamos chegando na porta, ouviu-se um estrondo na rua. Os seguranças e os policiais mandaram fechar as portas e ficamos trancados, em pânico, escondidos atrás de pilastras durante 15 minutos, até podermos sair.
Acho que dá para vocês perceberem o clima e o medo de que aconteça outro ataque na cidade.
Realmente, como saiu no “New York Times“, a França tem tudo que os fanáticos religiosos do mundo detestam. O país que criou os direitos humanos, mulheres livres e belas que dividem com amigos em um café uma garrafa de vinho. Liberdade de ter a crença que quiser, os perfumes sedutores, o respeito, a individualidade, a solidariedade quando necessário, e o repúdio a toda forma de violência, ditadura, e ignorância religiosa.
Paris é, e vai continuar sendo, a cidade mais maravilhosa do mundo. Essa tragédia não vai conseguir tirar o brilho desta cidade que me acolheu, me deu várias chances, me reconheceu como cidadão, me apreciou como amigo, me deu lições de vida. Eu amo Paris!
Em homenagem às vítimas desses oito ataques terroristas, escolhi vários símbolos de amor por Paris e solidariedade ao povo francês, que circulam nas redes sociais.
Todo o respeito e carinho também às vítimas do desastre em Mariana, na minha querida Minas Gerais.
E a vida continua…
__________________________________________________________________________________
parisporpaulopereira.com
__________________________________________________________________________________