Dois brasileiros, a blogueira Paula Rita Saady (http://www.parismechama.com) e o consultor de moda Paulo Pereira, dão depoimentos sobre os ataques terroristas que aconteceram nessa sexta-feira (13/110, em Paris, onde vivem há muito tempo. Já são mais de 120 mortos e centenas de feridos – até agora.
Paula Rita Saady, blogueira, vive em Paris há oito anos, casada com um francês e mãe de duas filhas, de 2 e 6 anos: “Eu estava indo para um coquetel no Marais, às 9:45 (12:45, horário de Brasília), no táxi, vi alguns carros policiais no caminho, mas nada alarmante vindo em direção oposta à minha. Cheguei ao evento e tudo normal, ninguém ainda sabia de nada. Quando passaram a saber, eles começaram a servir muito champagne e vodka pra ver se acalmava os convidados, que choravam. Às duas da manha, consegui um Uber. Chegando, tive que sair do táxi e esperar numa barricada em frente ao Bataclan (um dos alvos dos terroristas), a 200 metros da minha casa – passo em frente todos os dias. Tinha muito ferido, ambulância, gente que eu não sabia se estava viva ou morta. Nós, que estávamos lá tivemos que dar a volta pelas ruas de trás, para não passar pelos cadáveres. Não testemunhei o ataque, apenas o resgate. Ia dormir na casa de um amigo, mas minha filha mais velha ficava perguntando se eu estava viva ou morta, por isso, resolvi atravessar a tragédia. Nunca vou esquecer os horrores que vi.”
Paulo Pereira, consultor de moda (escreve às quartas-feira aqui no site), vive na França há 19 anos. Paulo mora no Quartier Montorgueil, cuja distância do Bataclan seria a mesma entre Copacabana e Ipanema, se fosse no Rio. Segue seu depoimento: “O estado de espirito de quem mora em Paris é o de uma tristeza imensa. As ruas estão vazias, as pessoas saindo pra fazer o estritamente necessário, todo mundo ligado nas informações dos jornais. Manifestações de solidariedade, como várias pessoas que ofereciam um lugar em suas casas ontem a noite para aqueles que não tinham como ir pra casa. Uma sensação de insegurança que nunca sentimos morando em Paris depois de anos, as caras nas ruas são desoladas e muito tristes. E o pior é saber que tudo isso aconteceu próximo a minha casa, em lugares que eu e amigos brasileiros frequentamos, esporadicamente, mas frequentamos. As imagens que vi hoje são duras! O medo em Paris agora é sentimento nacional, até esclarecerem tudo, está todo mundo apavorado.” Perguntado se o terrorismo estaria mudando o comportamento dos parisienses, com relação à solidariedade, Paulo responde: “Adoçando não diria, mas está mostrando um lado solidário e sensível, que não víamos antes”.