José Lavigne dirigiu alguns dos principais programas humorísticos da TV brasileira – entre eles, “TV Pirata”, “Casseta & Planeta”, “Casseta & Planeta Urgente!” e “Os Trapalhões”. Cria do Tablado, onde ingressou para tentar se livrar da repressão familiar e exercer sua criatividade de adolescente, o diretor volta ao seu ambiente de origem em 21 de novembro, no Teatro Clara Nunes.
Esse carioca irreverente, sempre disposto a expandir limites e de fazer a diferença nos seus trabalhos, vai dirigir Claudia Ohana no primeiro monólogo da carreira da atriz. A peça “A Voz Humana”, de Jean Cocteau, mostra a angústia e as tentativas desesperadas de uma mulher de reatar, por telefone, com seu amante, que irá se casar dentro de algumas horas com outra.
No seu currículo estão a participação como ator, por dois anos, no grupo Asdrúbal Trouxe o Trombone, onde aprendeu a trabalhar coletivamente; no Manhas e Manias, que misturava teatro com linguagem de circo; na direção de “Armação Ilimitada”, da Globo, uma série jovem altamente inovadora na época, com referências à cultura pop. Idealizou, com Alexandre Machado, a série “O Sistema”, que usava ficção científica para falar de neuroses contemporâneas, e”Dicas de um sedutor”, com Luiz Fernando Guimarães.
Nos últimos dois anos, foi diretor-geral de “Na Moral”, com Pedro Bial, programa que procurava ouvir diferentes pontos de vista sobre assuntos importantes para a sociedade, um espelho do que é o própria personalidade de Lavigne, aberto a ouvir e respeitar a opinião do outro. Misto de roqueiro e chefe disciplinado, Lavigne costuma dizer que é um “cara de sorte”. Mas sorte mesmo têm os seus amigos, que o descrevem como um cara honesto, generoso, responsável e, como se não bastasse, bem-humorado.
Depois de tanto tempo dirigindo na TV programas de humor, essa sua volta ao teatro com uma tragédia lírica tem um significado especial? Tem um novo Lavigne desejando experimentar mais o drama?
“Já tem um tempo que eu quero trabalhar um drama, acho que chega uma hora que, mesmo sem perder o humor, ficamos com vontade de lidar com outras emoções, é por esse caminho que estou querendo seguir. Fazer ‘A Voz Humana’ me trouxe essa oportunidade com um texto clássico, mas que continua moderno em conteúdo e forma e que, ainda por cima, trazia um desafio a parte por ser um monólogo. Além disso, eu e Claudia sempre quisemos trabalhar juntos, tem sido uma experiência muito rica e prazerosa”.
Você acha que o público de cinema nacional só está a fim de ver comédia no momento?
“O brasileiro sempre adorou comédia e comediantes. Tivemos a chanchada, a pornochanchada e agora temos o que eu chamo, sem nenhum demérito, a neo-chanchada. A atual safra de comediantes é espetacular, são completos! Escrevem, atuam, dirigem com enorme competência e o público percebe. Mas acho que tem lugar para todos”.
É difícil ser irreverente nas artes hoje em dia?
“Sem dúvida, as coisas estão muito sérias, cheio de patrulhas, é praticamente impossível não desagradar algum grupo. Mesmo assim, tem gente como o ‘Porta dos Fundos’ que está fazendo um trabalho finíssimo”.
O que você acha do humor na internet? É, realmente, um campo mais livre de censura?
“Não acho que se trate de censura. Na internet é você que vai atrás do que quer assistir, é segmentado. São milhões de opções. Nos grandes veículos você tem que atingir muitas pessoas de uma só vez, e encontrar um gosto comum é cada vez mais difícil”.
Ainda tem algum gênero ou tipo de programa que você não tenha dirigido e tenha vontade de fazer na TV?
“Meu último trabalho na TV foi o ‘Na Moral’, com o Pedro Bial, um programa de informação e que procurava fazer alguma diferença. Acho que existe um caminho enorme na tv aberta para a informação e debate. De alguma forma acredito que a TV aberta vai se transformar numa espécie de rádio AM, e isso me interessa”.