Pé na Jaca, por Karen Couto: Ferro e Farinha

Acho que só em Nápoles comi massas de pizzas tão boas. O local, sem frescuras e com charme natural, proporciona autenticidade no mais alto grau. Todos me pedem indicações de bares e restaurantes, e eu sempre pergunto: você quer ambiente com pessoas lindas e lustre de baccarat ou comida de qualidade? Na maioria das vezes, esses dois fatores não coincidem, ou deve-se pagar muito caro por eles.

Entendi que o papo era sério quando esperávamos ansiosos pelas pizzas e nos disseram que “infelizmente fariam novamente porque não haviam ‘saído’ como previsto”. Esse é o tipo de ética que eu espero em qualquer estabelecimento e o que o torna um respeitável local “de primeira”. A melhor pizza que comi nos últimos tempos chegou ao Rio pelas mãos do norte-americano totalmente nova-iorquino Sei Shiroma. Pouca oferta de sabores, mas o suficiente, massa feita com fermentação natural, a partir de “massa madre” — você tem ideia do carinho e trabalho que são necessários? — com farinha de nacionalidade italiana, como deve ser, regada a vinhos nacionais (fiquei surpresa com o rosé).

O forno é determinante e dispensa comentários, já que a pizza não fica encharcada, e ainda é crocante. A minha preferida foi a de queijos, boa procedência, na medida certa, sem excessos, com mel picante. A clássica estava clássica, um luxo, e as que levavam alho pedi sem alho, mas só porque a minha digestão não funciona muito bem com ele. Lá fora, velinhas sob latinhas recicladas e atendimento por jovens felizes que fazem de tudo um pouco, sem tempo ruim.

O pizzaiolo e a pizza interagem na mais perfeita sintonia. A forma como ele trabalha a massa – estira, dispõe sobre a pá e a insere no forno – é sentida em cada mordida de prazer. A determinação e a dedicação da assistente dele, com muitos anos de prática e o desapego ao estrelato, a levarão longe.

Pagando a rolha, você pode levar seu vinho; além disso, a cerveja, chá da casa (com toque oriental, claro) e água aromatizada com pepino, digestiva, que é apenas um charme a mais no tempero desse balcão de pizzas que preza pela harmonia e o equilíbrio em tudo que servem.
Para as formigas, mousse de chocolate com flor de sal – não provei e voltarei em breve por ela.

Se você nunca pensou em ir ao Catete para comer, continue não indo. Espero, sinceramente, que ninguém vá conferir para que o ambiente, a qualidade das pizzas e o clima do tipo “aqui o que importa é a qualidade do que servimos e não estou nem aí para o resto” continuem exatamente os mesmos. Absolutamente divino, “meraviglioso!”.
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DROPS INFORMATIVOS:
Ferro e Farinha
Rua Andrade Pertence, 42, Catete.
Quarta a domingo, das 19h às 23h30