O surfista Carlos Burle está de volta à praia de Nazaré, em Portugal – conhecida por ter as maiores e mais perigosas ondas do mundo – desde sexta-feira (09/10). Ele foi ao encontro da surfista Maya Gabeira, que tinha chegado dois dias antes. A dupla vai aproveitar a temporada de ondas grandes naquela região, que começou nesse fim de semana, para superar o desafio de fazer Maya surfar de novo, com Burle de piloto do jet-ski. Rebocando Maya até a onda ideal, ele vai ajudar a filha da estilista Yamê Reis e de Fernando Gabeira a vencer o trauma de 2013.
Naquele ano, Maya caiu de uma onda de 20m, fraturou o tornozelo e foi resgatada pelo pernambucano já desmaiada. Nesse mesmo dia, Burle surfou a que pode ter sido a maior onda já registrada (entre 32m a 35m), embora a conquista não tenha sido reconhecida pelo Billabong XXI Global Big Wave Awards de 2014, que ainda considera o americano Garrett MacNamara como o recordista – ele surfou em janeiro de 2013, também em Nazaré, uma onda de 30m.
Munidos de novas técnicas de medição de ondas e bem preparados fisicamente – passaram por treinamentos de musculação, funcional e de mergulho em apneia – Burle e Maya vão contar, também, com a ajuda de um jet-ski a mais, pilotado por Edilson Assunção, o Alemão de Maresias, que vai acompanhar a carioca continuamente. Saiba um pouco aqui dos planos de Burle para esse desafio.
Qual o seu objetivo principal no retorno à praia de Nazaré?
“Nosso time está bem focado no retorno de Maya às ondas grandes. Ela passou por um longo período de recuperação e nossa intenção é fazer com que ela ‘volte à casa’ com segurança. Não podemos negligenciar todas as condições do lugar. Estamos com um equipamento bem evoluído e a grande missão é essa. Ela surfando, conseguindo superar esse momento, a gente vai pegar onda, também.
O que achou de seu recorde não ter sido reconhecido pelo Billabong XXI Global Big Wave Awards?
“Os juízes são todos locais, norte-americanos da Califórnia. Um professor da Universidade Técnica de Lisboa fez outra estimativa, usando um método que mede a velocidade e distância percorrida pelo surfista, e chegou à conclusão que a onda que surfei tinha entre 32m a 35m. Estamos levando experimentos com GPS e novos programas para medir ondas, um dos quais é, inclusive, feito por portugueses”.
Maya deu uma declaração recente dizendo que a profissão é estressante. Ela disse isso porque ainda está traumatizada ou você concorda com ela?
“O surf de ondas grandes é mesmo estressante, você trabalha sob pressão dos patrocionadores, ansioso, adrenalizado. Tem que estar os 365 dias do ano preparado, porque nunca sabe quando pode acontecer um pico de ondas, e isso você só fica sabendo com dois, três dias de antecedência. Aí tem que voar correndo, levando todo o equipamento, enfrentando o desgaste do fuso horário”.
Você costuma fazer algum tipo de preparação mental para as competições?
“Sim, faço ioga desde os meus 15 anos, quando ainda morava no Recife. Gosto de fazer essa relação corpo e mente, e também faço meditação com o professor Klebér Tani. O Reiki eu faço desde 1999. Também me cuido com acupuntura e também como e durmo bem”.
Você não tem medo de ondas grandes, temidas pela maior parte das pessoas. Do que você tem medo, da violência urbana?
“Tenho medo de onda, de envelhecer, de perder meu emprego, tenho todos os medos que todo mundo têm. Em relação à violência no Rio, faço meus planos de prevenção para driblar o perigo, como todo mundo que mora aqui. Procuro levar uma vida mais simples, vivo perto de onde trabalho, tenho uma escola de surf no Posto 6 do Recreio. Eu e minha mulher usamos muito bicicleta, levo meu filho na escola assim. O ser humano está se afastando muito dos outros, privilegiando mais o ter do que o ser. Busco pautar minha vida pelo contato com a natureza e com a minha família (Burle tem dois filhos, Iasmin e Reno Koi). Tenho paixão pela minha família”.