Pedro Chagas Freitas é o autor que mais vendeu em Portugal, em 2014, com o livro “Prometo Falhar” – mais de 115 mil exemplares. São essas crônicas que ele vai lançar, sábado (05/09), na XVII Bienal Internacional do Livro, no Riocentro. Jovem, com 20 livros escritos – a maioria com títulos de efeito como “Só os feios é que são fiéis”, “Porque ris sabendo que vais morrer”, “In sexus veritas”, “Eu sou Deus” e “Queres casar comigo todos os dias, Bárbara?” – Pedro foi logo tratado como um fenômeno de marketing pela crítica literária tradicional. Do assunto ele realmente entende, porque já foi publicitário. E também domina as redes sociais, onde tem vários milhares de seguidores de suas frases de impacto – uma das mais citadas é: ““E viva a pornografia de estar vivo. E adorar”.
Pedro também aproveita seu site e o Facebook para dar oficinas de escrita e criar campeonatos de escrita criativa e de poesia. Segundo sua própria definição, é “um gajo que escreve cenas”, e que acredita que o país perfeito é a Lamechalândia. Lamecha, segundo o dicionário, é a pessoa extremamente sensível, que vive sob efeito de sentimentos românticos.
Que tipo de Brasil imagina encontrar? Acredita que a crise econômica e política do país possa afetar o consumo de literatura?
“Espero encontrar o Brasil lindíssimo que me habituei a conhecer desde pequeno por fotografias e imagens. A crise é sempre um fator muito negativo – não podemos negá-lo. Mas o povo brasileiro sempre deu provas de conseguir superar todos os obstáculos que surgem pelo caminho. Desta vez não será diferente, tenho a certeza. O livro, esse, vai sempre resistir. A vida sem poemas, sem letras, não é vida. É outra coisa qualquer sem interesse nenhum. E os brasileiros adoram viver”.
Você diz que já foi, além de jornalista e publicitário, salva-vidas, barman, operário, porteiro de discoteca e jogador de futebol. São coisas que fez na vida real ou na Lamechalândia? Afinal, como é a Lamechalândia?
“Fiz um pouco de tudo isso, sim – na vida real. A Lamechalância é a terra dos lamechas, daqueles que colocam a emoção, o sentimento, acima de tudo o resto. É lá que eu moro – é lá que sou feliz, quer enquanto criador de cenas quer enquanto pessoa. Acredito que a minha grande capacidade é a de ser uma pessoa. Já não é pouco”.
Você também já foi apresentador de TV, comentarista esportivo, letrista de música, entrevistador cômico e radialista. O que mais pretende fazer?
“Faço e escrevo o que me apetece – sempre que possível. Tenho a felicidade de o poder fazer quase sempre. Não há, assim, qualquer limite. Farei o que me apetecer. Não faço ideia do que virá amanhã – sou uma pessoa muito desassossegada, estou sempre à procura de novos desafios, de novos caminhos. Não consigo estar só a fazer a mesma coisa sempre. Tenho de tentar outros ângulos – e isso acontece também na escrita: todos os meus livros são muito diferentes entre si. São irmãos com poucas parecenças”.
O fato de ser escritor jovem e escrever sobre sexo e amor facilita sua vida afetiva? A maioria dos seus leitores é de mulheres?
“A minha vida afetiva não tem qualquer relação direta com o que possa, ou não, escrever. O meu público é bastante variado: de todas as idades e de ambos os sexos. Mas é indiscutível que é mais feminino – o que não é nada estranho, uma vez que os leitores de romances são esmagadoramente do sexo feminino. ”
Explique o processo de redação do livro Ou é tudo ou não vale nada? Você escreveu mais de 30 horas sem descanso? Outros escritores também colaboraram no livro, seguindo esse mesmo processo?
“Foi uma experiência inesquecível: estive durante 2012 minutos, sem parar (com excepção de quatro ou cinco paragens para o inevitável), a escrever – em bibliotecas, em associações culturais. A forma de funcionamento foi bastante simples: escrevia um capítulo por hora e, depois, ia telefonando a uma pessoa (participaram figuras públicas e anônimos) para lhe contar em que ponto ia a história – e era essa pessoa a dizer-me, depois de pensar um pouco, o que iria acontecer em seguida. Foi, nesse sentido, um livro todo escrito por mim – mas com ideias de muitas pessoas. Cheguei ao final, como é evidente, bastante cansado – mas foi uma felicidade perceber que valeu a pena. Quando li o livro e o vi publicado percebi que, apesar dos condicionalismos, foi possível criar uma obra que, para mim, faz sentido (rs)”.