João Emanuel Carneiro herdou da mãe, a escritora e crítica de arte Lélia Coelho Frota, o gosto pela literatura. Lélia era personagem querida e respeitada entre suas contemporâneas, e quem a conhecia sempre fala até hoje das suas inúmeras qualidades, tendo ou não a ver com sua profissão. Era admirada. O filho segue igual, sem preconceito de estilo, diga-se: com 15 anos, ele começou a escrever roteiro para as histórias em quadrinhos do “Menino Maluquinho” e do “Pererê”, do cartunista Ziraldo.
A estreia como roteirista veio sete anos depois, com o curta-metragem “Zero a Zero”, e já faturando seu primeiro prêmio na categoria 16mm do Festival de Gramado. Nessa época, havia terminado o curso de Letras na PUC e decidira ser roteirista. Um dos seus primeiros e marcantes trabalhos escrevendo para longas foi para o filme “Central do Brasil” (1998), de Walter Salles, parceria com Marcos Bernstein. Dali em diante, João fez história: em sua primeira novela como autor titular na TV, “Da cor do Pecado” (2004), conseguiu a maior audiência entre as novelas das sete, desde a imbatível “A Viagem” (1994), de Ivani Ribeiro. A novela rendeu uma média de 43 pontos de média, audiência só conquistada pelas novelas das 21h, e ainda pôs no ar uma protagonista negra, vivida por Taís Araújo.
Dois anos depois, João assinou outra novela das sete, “Cobras & Lagartos” (2006), trazendo à discussão temas como consumismo e honestidade. Cumprindo sua própria tradição, estreou no horário das oito, com a enorme repercussão de “A Favorita”. Nada, porém, se compara à trajetória de sua novela seguinte, “Avenida Brasil”, a mais exportada pela TV Globo, exibida em mais de 130 países, incluídos todos da América Latina.
Tamanho sucesso pode estar na compreensão que João tem do seu ofício, contada para o site Memória Globo: “O bonito da novela é que ela é feita para os outros. É um trabalho muito generoso com o público porque você está dialogando com milhões de pessoas. Não dá para negar que novela é um jogo, uma brincadeira feita com quem assiste. Jamais será uma obra conceitual, algo precioso, feito para o seu próprio umbigo. A novela pertence ao povo. É quase um serviço de necessidade básica da população: água, esgoto, luz elétrica, entretenimento.”
De volta ao horário das nove com “A Regra do Jogo” (direção de Amora Mautner), é grande a expectativa de que João presenteie o público com novas e viciantes surpresas. Parece deixar no telespectador uma perturbação, uma ansiedade, uma inquietude, pelo capítulo seguinte – deve vir daí seus sucessos.
Enquanto isso, leva a vida de jeito discreto, fala tranquila, perfil do tipo que parece juntar inteligência e coração, com dedicação impressionante ao trabalho, a ponto de reduzir as horas de sono (a coisa que mais ama na vida) quando está no ar. Leia sua entrevista:
UMA LOUCURA: “Loucura é imaginar que 40 milhões de pessoas estão assistindo ao que saiu da minha cabeça.”
UMA ROUBADA: “Engarrafamento na Barra. Pego quando vou ao Projac.”
UMA IDEIA FIXA: “Gelo e ar-condicionado no verão.”
UM PORRE: “Fila, em geral, é um porre.”
UMA FRUSTRAÇÃO: “Frustração é a volta da inflação.”
UM APAGÃO: “Não lembro, apagou!”
UM MEDO: “Morro de medo de alma penada – de todos os tipos.”
UM DEFEITO: “Meu maior defeito é não saber delegar.”
UM DESPRAZER: “Engordar com comida ruim; comida boa, tudo bem!
UM INSUCESSO: “Insucesso sou eu em trabalhos manuais.”
UM IMPULSO: “Inventar uma viagem em cima da hora: uma delícia…”
UMA PARANOIA: “Tenho paranoia de elevador cheio – não entro.”