Em 2012, o mineiro Gustavo Ziller era um empresário estressado, com 150 funcionários sob sua responsabilidade na empresa Aorta, uma das maiores desenvolvedoras de aplicativos para celulares e tablets da América Latina. Àquela altura, já havia sido guitarrista da banda Zippados na juventude, criado a rádio Savassi FM e uma produtora de vídeos. Também havia participado do lançamento da Oi FM e do Trip Mob, braço de conteúdo móvel da Editora Trip.
Mas era sedentário, estava com 106 quilos e não estava satisfeito com seu estilo de vida. Resultado: acabou tendo um problema cardiológico no meio do trânsito de São Paulo. Durante a licença forçada de 15 dias decidiu trazer de volta à sua rotina “o extraordinário”: saiu do hospital direto para se dedicar ao alpinismo e é, hoje, um dos atletas de aventura mais ousados. Nessa sexta-feira (24/07), ele lança às 20h, na loja The North Face, no Shopping Leblon, o livro “Escalando Sonhos”, em que conta a transformação pela qual passou e sua jornada em direção a seu primeiro desafio, o campo base do Annapurna, no Nepal. Sua meta atual, aos 41 anos, é escalar os sete picos mais altos do mundo em dois anos e meio, jornada que está sendo registrada no programa 7 Cumes, exibido pelo Canal Off.
Que dicas você daria para quem quer fazer o que gosta e viver disso?
“Acredito que em todos os projetos que se coloca dedicação, e quanto mais se tem carinho e zelo, o resultado vem rápido. Não é um resultado de ficar rico, mas te traz serenidade e felicidade e o conforto exato para aquele momento. O 7 Cumes, por exemplo, é um projeto muito caro, uma escalada não custa menos de US$ 120 mil por pessoa, mas conto com a parceria do Off em conteúdo audiovisual e para as expedições e mais uma empresa fornecedora de equipamentos. A pessoa que coloca o ‘sim’ na frente do ‘não’ está mais suscetível a conhecer pessoas incríveis e outras portas são abertas. Já subimos duas montanhas, o Aconcágua, em fevereiro, e o Kilimanjaro, em junho, e já estamos equilibrados. O próximo passo vai ser o monte Elbrus, na Rússia, em setembro.
Como foi sua preparação inicial para as escaladas e como é seu treinamento atual?
“Qualquer pessoa, com um mínimo de dedicação e preparação, pode escalar uma montanha – não precisa ser super homem e nem ter nascido e vivido nas alturas. Comecei meu treinamento com 10 minutos de esteira e, ao final de sete meses, estava correndo 20km. Hoje, tenho treinamento de atleta, com dois treinos por dia. Eles são voltados para resistência cardiovascular, isto é, para o triatlon – nado, corro, pedalo – ou faço caminhadas pela cidade com uma mochila de 18 quilos nas costas. Também faço musculação e repetições de movimentos de escalada. Mas o importante é, também, o fortalecimento da mente, e para isso faço ioga e meditação. Se não fizer isso, o psicológico te derruba da montanha. Na escalada, tenho o apoio de uma equipe de 11 pessoas, tudo está muito bem cuidado para que nenhum acidente ocorra. O risco é menor do que um avião cair”.
Que papel tem sua família dentro de tudo isso?
“Estou casado há 26 anos com a Pat, uma santa que entrou na minha vida. Tenho três filhos, duas meninas de 15 e 12 e um menino de 10 anos. Cheguei à conclusão que não é o amor que mantém duas pessoas unidas, mas a admiração que um tem pelo outro, e procuro encantar a minha mulher usando também essa fórmula das minhas aventuras. Uma expedição dessas dura, no mínimo, 15 dias e, as mais longas, 70 dias. Quando a saudade aperta uso um telefone satelital: a voz soa metálica, mas para mim virou item de primeira necessidade”.
Que surpresas a vida nas montanhas têm te trazido?
“Nas montanhas minha saúde é perfeita. Quando voltei do Aconcágua, adoeci. Agora, na volta do Kilimanjaro, fiquei gripado. Fui surpreendido, na Tanzânia, com o convite para ser embaixador de duas instituições, um orfanato de 69 crianças e uma escola com 200. Além do currículo normal, eles ensinam às crianças coisas que, para mim, fazem mais sentido numa educação, como o ensino de idiomas, de tecnologia, de música e artes como suportes para lições de caráter, de ética e convivência. Espero fazer parcerias para ajudar as crianças de lá e as daqui. Desde que troquei o mundo do capitalismo selvagem pelo mundo inspiracional, estou nesse processo de abertura, de voltar a trazer para o dia a dia o extraordinário, o brilho nos olhos. É isso que quero fazer com minhas escaladas, minhas palestras motivacionais e com meu livro”.