Em 30 anos de carreira, a carioca Beatriz Milhazes se tornou uma das mais artistas latino-americanas mais conhecidas e admiradas no mundo. A pintora, gravadora e ilustradora já teve retrospectivas na Fondation Cartier, em Paris (2009), no Malba, em Buenos Aires (2012), como primeira brasileira a merecer essa homenagem, no nosso Paço Imperial, no Rio (2013), e no Pérez Art Museum de Miami, nos EUA (2014).
Beatriz também é dona de um recorde invejável: a tela “Meu Limão” foi vendida, em 2012, por US$ 2,1 milhões no leilão da Sotheby’s de Nova York, valor mais alto já atingido por um artista plástico nacional vivo. Embora o artista não ganhe com a revenda de seus quadros, o evento em si colabora muito para valorizar o conjunto da obra. Preparando uma individual para outubro para a galeria James Cohan, de Nova York, a pintora conta sua relação com dinheiro e a parceira com sua irmã, a coreógrafa e bailarina Marcia Milhazes, que data de 1996 – são de Beatriz todos os cenários já dançados pela companhia de Marcia.
Como vai ser a próxima parceria entre você e sua irmã? É verdade que quando eram crianças se tratavam de Bola(Beatriz) e Bolinha(Marcia)? Eram gordinhas (rs)?
“A parceria com a minha irmã vem se desenvolvendo desde o inicio da Marcia Milhazes Companhia de Dança. Nossa troca intelectual e artística sempre foi muito rica e para ela foi evidente que eu fizesse os cenários de seus espetáculos. A próxima e inédita obra da minha irmã será apresentada no Oi Futuro/Flamengo, que está fazendo 10 anos. Eu farei o cenário que será ambientado dialogando com o espaço arquitetônico da instituição (Nota do site: Marcia planeja fazer com os bailarinos ‘uma invasão no prédio’, dançando em vários ambientes uma coreografia de inspiração barroca, ao som de cravo e viola da gamba).
Sobre nossos apelidos…Imagina!.. Sempre fomos magras (minha irmã bailarina, magérrima), ou melhor, sempre nos mantivemos em forma, esportivas. A família dos ‘Bola’ surgiu da imagem do Topo Gigio, lembra? Éramos apaixonadas por ele e tentando imitá-lo criamos os ‘bolinhas'”.
Você é uma artista bastante disciplinada, que frequenta seu atelier no Horto, no Jardim Botânico, todos os dias e por várias horas. Nas que sobram, é uma pessoa que gosta de sair ou a violência dos últimos tempos tem refreado um pouco seu lado social? Aliás, que tipo de lazer você gosta de fazer quando não está pintando?
“Sim, sou disciplinada. Nunca gostei muito de sair à noite, mas claro que tenho uma vida social que existe para os amigos e família. A minha profissão também exige uma atividade social de que participo de maneira bem focada. Sou uma pessoa que ama o dia e se recolhe à noite. A violência do Rio é tão assustadora quanto complexa. Com certeza todos os cariocas têm a sua rotina alterada em função dessa realidade que nos acompanha há muitos anos”.
Muito antes de seu quadro “Meu Limão” ter atingido uma cifra altíssima na Sotheby’s você já tinha fama de ser uma artista milionária. Qual é a sua relação com o dinheiro?
“Para mim, a vantagem de ganhar dinheiro é a possibilidade de não ter que pensar muito nele. É a liberdade de escolha, inclusive de não ganhá-lo”.