Casamentos arranjados. Mulheres ousadas e audaciosas. Mulheres que procuram luxo. Maridos apaixonados, incapazes de contrariar o mais banal desejo da mulher. Essa é uma trama comum de narrativas sobre casais que acontece desde Adão e Eva. Mas de todas essas, a magistral, a mais contundente é “Madame Bovary“, de Gustave Flaubert, adaptada por Bruno Lara Rezende (foto abaixo), também diretor.
Tudo é econômico na montagem, num texto abundante. Raquel Iantas e Joelson Medeiros, Emma e Charles – não revezam personagens. Alcemar Vieira, Lourival Prudêncio e Vilma Mello se revezam nos amantes, nos pais e nos outros que transitam pela vida do casal e que só conseguem evidenciar o distanciamento, o fosso da relação que nada é capaz de aproximar – nem a filha, nem o amor devotado, nem a situação social.
“O argumento pode ser considerado banal, os personagens são medíocres. A força do livro não está na história. O que faz a diferença é a qualidade do texto de Flaubert – e eu decidi trazer a narrativa para o primeiro plano, para além dos diálogos. Nas palavras de Flaubert, derramam-se, então, a ironia, a lucidez, a frieza com que ergue os personagens, figuras que são alvo de crítica e, ao mesmo tempo, são o próprio autor, um burguês com B”
Duas mesas tomam o cenário e são utilizadas para vários propósitos, inclusive na cena em que Emma literalmente enlouquece de raiva, de ter sido contrariada, de não poder conseguir o que quer. A luz funciona para desmaiar, matar, avivar, colorir, escurecer – segue o significado de cada cena. Pode mesmo esmaecer, como acontece com a vida de Emma e de muitas cuja única paixão são elas próprias.