Um caso inédito, totalmente diferente, aconteceu durante mais de 60 anos na cena teatral brasileira. Muitas vezes, a plateia prestava mais atenção às expressões da crítica do que ao que se passava no palco. Em uma peça onde estivesse sentada, geralmente na poltrona 1 ou 2, da fila D ou E, estava lá, impávida, imperial, sem expressão, o terror, o medo, o pavor: Bárbara Heliodora, a crítica teatral.
Afável no trato, chegava mansa em todos os ambientes, sem espalhafato algum, Bárbara Heliodora dominou, com a opinião abalizada e um profundo conhecimento de todas as nuances do teatro – texto, direção, interpretação –, a capacidade de dar aos comuns mortais o roteiro do que valia a pena, do que era correto, daquilo que deveria ser descartado.
Bárbara Heliodora considerava o teatro um mistério de como se pegar um texto impresso e transformá-lo em algo vivo, que pudesse mexer de tal forma com a emoção das plateias. “O fundamental mesmo é gostar muito, adorar teatro, porque, se anualmente eu vejo uma média de 90 a 100 espetáculos, um percentual altíssimo é de má ou péssima qualidade. E só um amor implacável ao teatro é que mantém o crítico ainda disposto a continuar a considerar o teatro uma arte e a frequentar – melhor dizendo, aturar – um número assustador de coisas”, dizia a seu contingente de discípulos, fossem alunos, espectadores, colegas de redação.
A menina que ganhou a primeira coleção de Shakespeare aos 12 anos deu curso para censores, casou, descasou, torcia fanaticamente pelo Fluminense, ganhou asas, virou mito/verdade. Deixa ao Brasil um verdadeiro espetáculo de ética, firmeza e bom gosto. Bravo, Bárbara!