Omar Resende Peres Filho, o Catito Peres, é um empresário mineiro-carioca e cidadão inquieto. No Rio, tem o restaurante Fiorentina, que sempre apoia muitos artistas conhecidos ou nem tanto, e constrói, com Germán Efromovich, um hotel na Avenida Atlântica com projeto arrojado da arquiteta Zaha Hadid. Também investe numa rede de fast food nas estradas de acesso à região serrana do Rio. No total, emprega mais ou menos 200 funcionários.
Para Germán também exerce a função de conselheiro do estaleiro Eisa – não é a primeira vez que Catito está envolvido com negócios da indústria naval, área em que sempre atuou, assim como na de comunicação – já foi um dos sócios da TV Panorama Juiz de Fora, afiliada da Rede Globo – e também investiu em entretenimento, esportes e agropecuária.
Gosta também de fazer caridade; em dezembro, cedeu a Fiorentina para almoço comandado por Lucélia Santos em benefício do Retiro dos Artistas. Por isso, seus amigos estão em choque com sua decisão de deixar o país.
Seguem trechos do seu desabafo:
“Vou embora do Brasil
Neste ano de 2015 termino dois importantes projetos empresariais, inovadores e que estão me dando muita alegria.
São projetos grandiosos para o “meu universo”, mas insignificantes diante dos problemas que vive o Brasil. Considero que contribuí e, contribuo, com meu país, dentro de minhas limitadas possibilidades.
Tentei outros caminhos onde pudesse contribuir ainda mais. Fracassei. Mas lutei. Por onde passei, coloquei todas as minhas energias. Só deixei construção. Obras feitas. Estão aí.
Chego, aos 57 anos, com a mania de olhar o futuro mas, sempre, com a “lanterna na popa” . E vendo as águas que passaram, sinto que, mesmo com todo o meu entusiasmo por esse país, sou um “perdedor”. Tudo o que fiz de coisas positivas, não contribuíram, de fato, para mudar a triste realidade do Brasil .
Desde que nasci, vejo as pessoas morrendo nas filas dos hospitais e os medicamentos sendo super faturados. Desde que nasci só vejo a violência aumentar e a sociedade sem ter como reagir. Crianças abandonadas, favelas crescendo e o ser humano convivendo com os ratos.
Ratos, lato sensu e, ratos deste estado corrupto, que só existe para sufocar e extorquir quem produz, quem de fato paga a conta. Do simples cidadão até o mais abastado. Desde sempre é assim. Nada do que o cidadão paga em impostos retorna em serviços para a sociedade.
País comandado por poucas famílias, cujas incalculáveis fortunas foram amealhadas, na grande e expressiva maioria, por monopólios, por favorecimentos e ilegalidades . Em nenhum país do mundo, o mercado financeiro suga tanto as riquezas de toda uma sociedade, como no Brasil. E os políticos não reagem, pois deles, dos bancos, se sustentam.
País de corruptos. País onde a legislação protege o trabalhador que não trabalha, mas que pune os que criam empregos e geram riquezas, com o apoio de uma legislação e estruturas jurídicas arcaicas. Os direitos no Brasil não são atrelados às obrigações. O que vale aqui, é o emprego e seus direitos. O trabalho é secundário.
Tivemos várias chances de mudar essa triste realidade. Mas o que vimos, mesmo com “eleições livres”, foi a corrupção aumentar com a “vitória” sempre dos mesmos e, quando “se renovam” os poderes, vemos gente cada vez menos qualificada assumindo as mais importantes funções do Estado.
(…)Não pude mudar essa realidade. Não tive força e talento suficientes, para contribuir e construir uma sociedade menos violenta, menos corrupta, menos vagabunda. (…)
O que me sobra, então, aos 57 anos? Os bens que amealhei? É muito pouco. Quero viver em um país onde eu possa sair nas ruas sem medo de ser assaltado, ou ser atingido por uma bala perdida. Não quero ser achacado por policiais ou por fiscais. Quero entrar em um hospital público e não ver as pessoas abandonadas nos corredores, sendo tratadas de forma pior que animais em uma clínica veterinária. Sei que não irei ver realidade diferente.
Quero viver em um país onde o estado seja você, não tenha dono e que sirva, exclusivamente, como instrumento de justiça social. Jamais será o caso brasileiro. O estado brasileiro é corrupto. (…)
Não sei, ainda pra onde vou. Mas quero ir para um país onde as pessoas respeitem as leis; onde as pessoas respeitem o trânsito; onde as pessoas não agridam as outras; onde marginais não te coloquem um revólver na cabeça em plena luz do dia; onde jovens adolescentes não sejam arrogantes e covardes, como são aqui e, onde não existam seitas evangélicas, lideradas por bandidos, travestidos de pastores, como temos aqui e, pior, donos de canais públicos de TV. Não quero mais nada disso pra mim, nem para minhas filhas. (…)
Sei que para onde eu for, não serei mais feliz.
Mas não consigo mais conviver com o Brasil.”
Catito tem apartamento em Nova York; provavelmente, é para lá que vai se mudar. Menos um empreendedor no Rio.