— E como você interpreta o Deus? — perguntou.
— Se você entende Deus como um Grande Eu pessoal e finito, para mim não tem sentido. Deus é a realidade absoluta e eterna; o Grande Eu não existe, o Grande Eu é.
— Não entendi você dizer que “não existe”…
— Existir, de exsisto, é ser colocado fora, produzido, ou seja, um efeito; o Grande Eu simplesmente é.
E completou:
— Nós existimos. Fomos produzidos. Somos o efeito. Por isso, muitos se referem a Ele como o Pai (Causa) e a nós como filhos (Efeito). Compreendeu agora a diferença?
— Sim, mas como entrar em contato com Ele ou Ela?
— Vive-se o Grande Eu apenas nas profundezas do Ser.
— Como assim?
— Por exemplo: quem nunca sentiu amor ou alegria nunca saberá o que são, por mais que alguém defina ou descreva. Com o Grande Eu é a mesma coisa. Temos que senti-Lo.
— Entendi… Mas por que todas as grandes filosofias da antiguidade reconhecem no Grande Eu três pessoas?
— O início é representado pelo Pai; a continuação é o Filho, e a consumação, o Espírito, ou Brahma, Vishnu e Shiva; ou Isis, Osíris e Hórus, e muitas outras tríades menos conhecidas — explicou.
E continuou…
— É a Lei do Três! A Lei da Manifestação nos mostra claramente que, para qualquer consumação, são necessárias três forças: ativa, passiva e neutra, o um gera o dois, que gera o três, que gera todas as coisas. Quando há apenas duas forças, elas se anulam mutuamente ou não determinam nenhum evento — falou para os amigos que o olhavam com atenção.
— A Lei do Três pode funcionar também através da fusão, cujo processo se realiza assim: o que está acima se une com o que está abaixo, com a finalidade de realizar o mediano; nada pode acontecer a não ser que essas três forças estejam presentes. Sem a neutralizadora, a ativa e a passiva ficam em oposição, e o novo não pode surgir.
— Em nosso estado atual de consciência, somos praticamente cegos à força neutralizadora, pois estamos sempre presos à dualidade. Para ser capaz de entendê-la mais profundamente, é necessário um nível de percepção diferente do que normalmente chamamos de realidade.
— Afirmação, Negação e Conciliação — simplificou.
— Exato. Vamos lá: para construirmos uma casa, precisamos do local, do material e do construtor; para acendermos uma lâmpada, precisamos do negativo, do positivo e do neutro; para que exista a humanidade, é necessário um homem, uma mulher, e o filho dessa união. E assim por diante… No nosso caso, o desejo de evoluir é a “força ativa”, que fica estagnada pela ignorância, a “força passiva”; o “neutro” seria o Portador da Luz trazendo o Conhecimento e produzindo a Transformação!