Sambou,sambou, não descansou… A grande imagem do espetáculo Entredentes, de autoria do diretor Gerald Thomas, escrito especialmente para Ney Latorraca, é o ator, dançando como a melhor das cabrochas, repetindo sem cessar “it’s amazing” . Dançar é o ato de envolver o corpo, a música, as palavras e se fazer uma outra pessoa, diversa daquele estática, de uma vida monótona e igual. E esse é o assunto da peça.
Para fazer uma auto/biografia de Ney Latorraca e mostrar desde suas origens como ator, sua infância (no belo episódio de receber espíritos), até a sua doença que o deixou no CTI por meses, Gerald Thomas opta por dois personagens: um rabino (Ney) e um árabe (Edi Botelho) que, junto ao Muro das Lamentações, tentam ter um diálogo com o menino de sentido. Mas não é o que acontece.
Ainda que o tom seja farsesco, aguçado pelo personagem da dama de vermelho da portuguesa Maria de Lima, o que fica claro é o tênue fio que separa as pessoas em todas as situações: religião, vida, visão de mundo, sensualidade. Como se as palavras e os atos ficassem sempre sussurrados, palavras meia ditas entre os dentes, sem a coragem de abri a boca para gritá-las.
Assim, desde os astronautas lentos que iniciam na peça até a apoteosE do surto de Maria de Lima, a peça desenvolve uma série de frases que juntas formam um contexto sobre onde se quer chegar: há que se ultrapassar as diferenças, há que se dançar, receber santos, requebrar. Quebrar a banca, sem medo de errar. Isso é o prazer de ver um Gerald Thomas. Vai lá e quebra tudo.
Serviço:
Teatro SESC Ginástico
De quinta a domingo, às 19h.
Invente tempo e vá:
”Duas Vezes Um Quarto (2 X ¼)”, apresenta duas comoventes, complexas e tortuosas histórias de amor, em dois quartos adjacentes, separados por um corredor:os atores Carla Marins e José Karini, encenam “A Dama da Lapa”, enquanto Guta Ruiz e Lucas Gouvêa protagonizam “Dilúvio em Tempos de Seca”.
Até domingo
No CCBB às 19h30