A tela “Óleo e madeira pintado à mão”, de Beatriz Milhazes, que está no lote milionário de obras de arte apreendidas pela Receita Federal por indícios de fraude na importação, estava desaparecida, segundo a artista. “É uma tela antiga, de 1994, que foi comprada por meu galerista mexicano à época, Ramis Barquet, e sobre a qual eu não soube mais”, conta Beatriz. Tampouco a carioca se lembra do valor de venda da tela: “Naquela época eu não prestava atenção nessas coisas”, revela. A artista só soube qual obra sua tinha sido apreendida através da equipe do “Fantástico”, que tinha uma lista. Com seu jeito discreto, Beatriz até se apavora com a simples menção da Receita Federal: “Ih, gente, não tenho nada a ver com isso”, vai logo esclarecendo.
Beatriz é a primeira, entre cinco artistas contemporâneos nacionais, que teve mais quadros entre os 500 mais vendidos em leilões europeus, norte-americanos e asiáticos entre julho de 2012 e junho de 2013, de acordo com o relatório anual da ArtPrice, divulgado em outubro passado. Ela está em 49º lugar, com um acumulado de 3,16 milhões de euros, arrecadados com a venda de sete lotes – uma média de 452 mil euros por obra leiloada.
É bem provável que sua tela e as outras 17 obras sejam incorporadas ao acervo do Museu Nacional de Belas Artes, onde estão guardadas. Há um precedente: o quadro “Caçador de Passarinhos”, de Portinari, apreendido pela Receita em 2006, acabou doado ao museu. Pode-se acusar de tudo, menos de falta de gosto a quem fez a “importação” das obras: há trabalhos de Victor Vasarely, o pai da Op Art, de Michelangelo Pistoletto, dos contemporâneos colombianos Edgar Negret e Miguel Ángel Rojas, além de Sérgio Camargo, Anish Kapoor, Cildo Meirelles, Daniel Senise e Osgemeos.