Uma situação aparentemente simples e banal. Um final de festa, uma pequena confraternização entre dois casais que, por razões de trabalho, precisam se conhecer. Oposições aparentemente sem problemas. Um casal é jovem, em começo de vida, apaixonado. O outro, já maduro, carrega a amargura de relações antigas e frustrantes. Essa é a aparente moldura de “Quem tem medo de Virginia Woolf?”.
Com direção precisa Victor Peralta, ainda que abundante para ressaltar os conflitos, Zezé Polessa, Daniel Dantas, Ana Kutner e Erom Cordeiro vão desde o encontro aborrecido daqueles que não se conhecem até a encenação de quatro cavaleiros do apocalipse dos sentimentos exacerbados. Zezé é Marta, a esposa amarga, desprezada, a procura de alguma emoção que o sexo casual possa trazer. Clara é a jovem esposa que tenta ser normal, mas que bebe um conhaque atrás do outro, de puro desespero.
O jogo é jogo pesado. Em disputa estão o amor, a solidão, o fracasso da carreira, o futuro, o passado. Velhice e juventude, sexo e amor. Atração e repulsão. Verdade, imaginação. Mas, sobretudo, a exposição permanente da mentira. Os amantes não são amantes, mas combatentes. O profundo conhecimento que cada um tem sobre o outro se transforma em uma arma quase que letal.
George, o marido de Marta vivido por Daniel Dantas, diz que quer brincar de jogo da verdade. Mas, quer mesmo se aprofundar nas mentiras criadas por eles. Em tempo real, pois a duração da peça é a duração do encontro, vemos surgir em nós o medo que ali está estampado: o medo de viver, de amar e, sobretudo, o medo de relacionar. Esse é o medo paralisante, muito mais grave que o medo do lobo mau.
Serviço:
Teatro dos Quatro – Gávea
Quinta, Sexta e Sábado, às 21h
Domingo, às 20h