Um tumulto provocado por um “flanelinha” interrompe nossa primeira tentativa de entrevista. É assim o dia todo, sete dias por semana. Se existe algum problema nas ruas e morros do Rio, é só chamar a Nina Frejat. A bela loura de aparência delicada tem um apelido: “Xerifa”. “É engraçado, mas não me sinto assim. Eu me sinto, sim, uma parceira do Rio”, ela define.
Embora seja difícil traduzir a dimensão de seus atos, as fotos acima resumem a rotina da Nina: a qualquer momento, a empresária (do ramo de bolsas e sapatos) é capaz de largar seus compromissos de trabalho para sair e ajudar a quem precisa – seja onde for, debaixo de chuva ou de calor de 40 graus. Basta o celular tocar e lá vai ela desentupir bueiro na comunidade de Tavares Bastos, limpar os canais do Jardim Botânico, batalhar por material esportivo para as crianças do Dona Marta ou do Tabajaras. Na última enchente na cidade e na Baixada Fluminense, Nina ficou com água acima da cintura enquanto ajudava moradores da Penha. Fez o registro ao lado e desabafou numa rede social sobre o drama do casal de idosos: “Não precisa nem de legenda, não é mesmo? Mal começaram as chuvas e olha a situação do povo”.
Nina tem canal direto com vários órgãos das administrações municipal e estadual – feito conquistado depois de muito perturbá-los com as reclamações de moradores. De chata virou parceira. “Eu perturbava mesmo. Ficava ligando sem parar”, conta. Hoje, até o subprefeito da Zona Sul, Bruno Ramos, a acompanha nas incursões aos morros. “Tem que subir a pé. No bondinho, não vale”, ressalta, incansável.
Muitas vezes, é através dela que policiais militares, guardas municipais, Comlurb, Ordem Pública e tantos outros são informados, em primeira mão, sobre alguma ocorrência. Quando não consegue ajuda, a própria Nina resolve o problema, com o conhecimento das autoridades. “Faço por amor. Passei três noites colocando luz numa rua que, por ação do tráfico, era escura”, lembra, acrescentando que o normal é dormir apenas 4 ou 5 horas: “E fico feliz assim. Se me deixar quieta, eu entro em parafuso”.
O espírito solidário de Nina despertou cedo, ainda na infância, quando ela via a mãe levar comida para frequentadores de lixões em São José dos Campos (SP), onde nasceu. Adolescente, veio para o Rio e logo pôs a lição em prática. Em pouco tempo, já estava ajudando a população carente de diversas comunidades. “Gostomesmo é de estar com o povo. Nem namorado algum me tira o amor por esta cidade”, diz, sempre à procura de parceiros para os projetos sociais que mantém para a criançada, com ênfase nos esportes.
O número de seguidores online não para de crescer. “Ela é uma cidadã de um coração que nunca vi igual. Ela faz tudo pra ajudar”, diz Edu Almeida, que a chama de “Xerifa Desbravadora”. Nina é mais do que uma bela história para contarmos no Natal; ela é um exemplo para os 365 dias do ano. “Em primeiro lugar, você tem que ter Deus no coração e amor ao próximo”, reflete, concluindo: “Tome apenas 5 minutos do seu dia para ajudar alguém e veja a mudança que você pode fazer no mundo! Se cada um fizer um pouco, melhora pra todos”.